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EFEITO DARLENE

Por que a imprensa, tão preocupada com leis que amordaçam e atentados contra a liberdade de expressão, não se posiciona diante do efeito Darlene na excelente novela de Gilberto Braga? Não se trata da “porção Darlene” que existe em cada um, identificada pelo psicanalista Contardo Calligaris, em que todos procuramos escapar à condenação de ser um zé-ninguém nessa existência e nos enredamos num conflito ético sobre qual expediente fazer uso sem correr o risco de parar no inferno.
Num panorama dominado por conflitos de hemisférios, países emergentes escapando da fome e muçulmanos aumentando a horda de desempregados, vale tudo para tirar do seu próximo, passá-lo pra trás ou simplesmente despachá-lo, por uma questão de sobrevivência. Afinal de contas, a Bolsa de Valores é um cassino que não se compara com o bingo, rende fortunas, paga uma miséria de imposto, pouco se dá para o nível de emprego, e especula com a nossa boa-fé e alienação.
As denúncias veiculadas sobre o tratamento que a imprensa escrita, falada e televisionada dá à informação é de fazer o Roberto Marinho revirar na sepultura. A menos que se confunda ficção com realidade – o álibi perfeito – e transforme “Celebridade” num folhetim maniqueísta excessivamente prolongado por conta da verba publicitária, a ponto de converter o mal num mal maior que a realidade não comprova. Reflexão típica de quem não vê mais televisão nem lê jornais, de saco cheio com tanta desgraça que o seu telhado de vidro atrai.
No entanto, os cadernos de cultura de jornais e revistas são tão pródigos em analisar as intenções dos diretores de cinema e qual proveito os produtores tirarão, que chega a ser espantoso a intelligentzia titubear em dissecar matérias plantadas, notícias tendenciosas, fontes não confiáveis, o incensar de figuras que o público desconhece e a coluna especializada cultua.
Até hoje se pergunta a que tipo de marido Buñuel quis homenagear em “Bela da Tarde”. Com que intenções Kubrick filmou o crepúsculo do casamento de Tom Cruise e Nicole Kidman em “De Olhos Bem Fechados”? Aonde queria chegar Billy Wilder ao fazer Jack Lemmon encontrar a felicidade através de sua porção feminina em “Quanto Mais Quente Melhor”? Woody Allen sempre retratou a si mesmo e suas neuroses nos filmes que dirigiu, e o fiel público bate palmas e se identifica. E o que dizer de um cineasta como Pasolini, assassinado por conta do conteúdo incendiário dos seus filmes?
Uma imprensa tão ciosa em explorar CPI’s que morreram no nascedouro, escândalos que atravessam mandatos presidenciais e homicídios nunca desvendados, não demonstra o menor interesse em investigar suas mazelas, sinalizando um corporativismo que capta com maestria em outros segmentos da sociedade. Preferem comparar quais os presidentes que bebem mais. Se cabe o sexo oral no Salão Oval da Casa Branca. Se o FHC pagou cachê para Clinton na inauguração do instituto que leva o seu nome – iFHC, um primor de criatividade o “i” pequenininho.

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Antonio Carlos Gaio
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