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“LUCKY”

Lucky

A CRÍTICA DA CRÍTICA

Mais um filme notável que pode passar em branco, ainda mais por abordar o confronto entre a finitude e a velhice em ambiente que remete à decadência e aridez melancólica. O filme assume de forma escancarada as características da persona pública do próprio ator Harry Dean Stanton, eterno ator coadjuvante que sempre interpretou papéis excêntricos e que faleceu no mesmo mês de lançamento de “Lucky”, aos 91 anos – a mesma idade do personagem -, amplificando ainda mais tal sensação, fazendo-o merecedor de um Oscar. Há uma similaridade fora do comum entre o personagem e o histórico da vida de Stanton, com ambos não tendo se casado sob o peso de suas trajetórias serem pouco conhecidas, e confrontando a morte sob a perspectiva de uma vida longeva, que, no filme,  acabou se convertendo numa jornada espiritual na medida em que sua falta de perspectiva o foi encurralando num beco sem saída e sem respostas para explicar como sua própria vida embicou nessa encruzilhada. Sempre fumando e com um semblante endurecido a ressaltar as vicissitudes existenciais por que passava, em paralelo com uma personalidade forte que jamais fugia a um questionamento, sua sensibilidade também vai revelando a fragilidade da solidão e o medo da morte, natural na idade atingida. Uma fase terminal de muitas pessoas que nunca acreditaram em nada e que começam a questionar qual o sentido em se aqui viver. Apesar da temática espinhosa nos arrastar para um tema sem solução, as cenas finais nos arrebatam e nos levam a chorar com a humanização do personagem quando canta em espanhol numa festa mexicana. O filme conta com a espirituosa participação do fabuloso diretor David Lynch como ator, em cenas hilárias a respeito do seu cágado que, ao mesmo tempo, beiram o nonsense e nos fazem pensar em parentesco entre o diretor estreante de “Lucky”, John Carrol Lynch, e David. O cágado tem muitas respostas para o filme mas que não sabemos se o espectador irá alcançar e reagir.

 

Antonio Carlos Gaio:
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