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CAPÍTULO I – A INTERVENÇÃO ESPIRITUAL

A intervenção espiritual realizada na Fundação Marietta Gaio, em 24 de julho de 2015, se iniciou com a leitura do item 18 (“Bem e mal sofrer”) do capítulo 5 (“Bem-aventurados os aflitos”) do livro de Allan Kardec, “O Evangelho segundo o Espiritismo”, com comentários entre os presentes à sessão, seguidos de cânticos amoráveis, leves e suaves, como que a convidar os espíritos para trazerem a cura, já que a Casa espírita não opera através de médico desencarnado nem realiza cirurgia espírita (com bisturi). São verdadeiras preces cantadas com a música favorecendo a limpeza do ambiente.
Jesus disse muitas vezes que não se colocava um fardo pesado sobre ombros fracos, e sim que o fardo é proporcional às forças, como a recompensa será proporcional à resignação e à coragem. Mas é preciso merecer a recompensa e é por isso que a vida está cheia de tribulações. Na verdade, há que ficar satisfeito quando Deus o envia para a luta, representada pela dor ou contrariedade, esforçando-se para superar e dominar os ataques da impaciência, da raiva e do desespero. Bem-aventurados os aflitos são aqueles que têm a ocasião de provar sua fé, sua firmeza, sua perseverança e sua submissão à vontade de Deus, porque terão cem vezes a alegria que lhes falta na Terra – palavras que parecem feitas de encomenda para mim.
Antes de ser introduzido na câmara escura com uma luz bem tênue e relaxante para deitar numa cama sob um cobertor e um ar-condicionado forte, pensei em meu corpo outrora saudável, que era minha verdadeira natureza. Pedi perdão a mim e a cada célula de meu corpo se a intoxiquei com alguma doença com que nutri meu corpo, de modo inconsciente, como a angústia e o desespero. Pois desejo de volta o meu corpo sadio, se assim me for permitido.
Para tanto, enchi de ar minhas células, mesclado com o melhor antídoto para eliminar todas as toxinas nelas armazenadas com amargura e ressentimento, que costumamos não reconhecer. O antídoto é composto de amor, carinho e gratidão por tantos que nos ajudam a abrir caminhos, denodados no seu mister. Isso fará com que as toxinas se desprendam das células e descamem minha pele tomada por queimaduras.
A música prossegue no interior da câmara para que não disperse a concentração, entoada pelas médiuns de sustentação, que doam ectoplasma (energia espiritual) para que os espíritos retirem algum elemento e realizem a cura. A ectoplasmia é o suprassumo para renovar tudo, seja sangue ou pele, suprindo de coisas que está precisando ou de que nem desconfia.
Mergulhado na introspecção, comecei: Por que tanta dor? Que é muito diferente de se autoindagar por que logo comigo. Afinal de contas, se associa queimadura ao pior dos infernos. Natural, portanto, que eu fosse de imediato implorando misericórdia, clemência e compaixão. Me cura! Me cura! Me cura!
Mas havia que olhar para dentro de meu coração. No breu, quem olha para fora, dispersa, quem olha para dentro, desperta. Deixei passar muito tempo para conversar com meu avô, minha avó e meu pai. Eles, para mim, no exagero natural de neto e filho, correspondem à Santíssima Trindade, não só pelas sementes de fé e crença que foram plantando em mim, paulatinamente, como também por seguidas e robustas provas de sua atuação em minha trajetória, um tanto errante, por vezes, até que, inesperadamente, senti a presença de meu pai através de sua energia espiritual para me converter à espiritualidade durante viagem que realizei à Tailândia e à China em 1996 – que se converteu numa verdadeira imersão espiritual. Soou para mim como uma aparição, substancialmente reforçada pelo que representou o retorno de meu avô Manoel Gaio, em 2006, de outras plagas do Plano Espiritual, depois de desencarnado em 7 de setembro de 1954, quando pediu a Deus que lhe permitisse exercitar o amor e o bem em locais onde os corações ainda estivessem endurecidos. Conforme descrito em mensagem psicografada pela médium Maria Célia Bittencourt Cruz, em 18 de março de 2006, rogou esse afastamento, nem bem se distanciou dos vínculos afetivos e da família, por pelo menos 50 anos, para dar continuidade a essa possibilidade de abrir novas frentes para o bem e o amor que Jesus nele despertou.
Diante de tamanha capacidade de entrega e desprendimento, abri para Eles toda sorte de minhas dificuldades para me integrar à Fundação Marietta Gaio, com uma sinceridade atroz que até a mim me constrangeu. Dificuldades essas que só Eles sabem e compreendem na origem de fatos que deixaram sua marca no espírito da família.
Podem me dizer o que vocês esperam de mim? Eu precisava tanto que vocês conversassem comigo agora que ninguém está vendo ou ouvindo. Imediatamente me recriminei: Para de pensar em fazer grandes coisas, primeiro há que realizar inovações no seu próprio interior, pois são poucos os voluntários disponíveis para as tarefas consideradas menores.
Um dia você celebrará essa dor inaudita, para a qual pediu trégua, graças ao coração forte suportar tudo para dominá-la. Atingido esse clímax, esvaziei tudo que tinha por dizer, o vazio almejado na meditação por onde Deus entra e sopra sobre suas feridas e sossega seu espírito – quanto mais nós esvaziamos nosso reservatório de bons e maus pensamentos, mais damos espaço para Deus nos preencher.
Não me dei conta, o tempo passou e as luzes se acenderam, transcorridos cerca de 45 minutos. A pele começou a descamar.

Antonio Carlos Gaio:
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