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CAPÍTULO VI – NINGUÉM DESEJA VIVER EM VÃO

Segundo o neurocientista americano, David Servan-Schreiber, em seu livro “Anticâncer”, todos temos um câncer dormindo em nós. Como todo organismo vivo, nosso corpo fabrica células defeituosas permanentemente. É assim que nascem os tumores. No entanto, Schreiber, que viria a falecer de câncer no cérebro em 2011, pondera que nosso corpo é também equipado com múltiplos mecanismos que lhe permitem detectá-los e contê-los. Temos um corpo já concebido com o propósito de frustrar o processo de formação de tumores, farejando os mecanismos inflamatórios que pressupõem o seu crescimento e criando possibilidades de bloquear o seu desenvolvimento, como também impedir sua realimentação através de novos vasos sanguíneos. Ou com o paciente ajustando a própria alimentação para reduzir os promotores do câncer, incluindo o maior número possível de compostos fitoquímicos que lutam ativamente contra os tumores. Ou compreendendo e tratando das feridas psicológicas que alimentam os mecanismos biológicos que agem sobre o câncer. Quais seriam, então, as precauções a tomar? Eu não deveria cuidar de minha mente? Ou melhor, do meu espírito?
A sexta intervenção espiritual, em 2 de outubro de 2015, se iniciou com cânticos para abrir caminho para os espíritos curadores e a leitura do item 23 (“Os tormentos voluntários”) do capítulo 5 (“Bem-aventurados os aflitos”) do livro de Allan Kardec, “O Evangelho segundo o Espiritismo”.
O homem busca incessantemente a felicidade, pois parece só ter direito a breves momentos no planeta Terra. Já que ela costuma lhe escapar com rara facilidade face ao rosário de sofrimentos que o castigam inevitavelmente. Poderia desfrutar de uma felicidade relativa se não se ativesse aos prazeres materiais ou de prazo curto sujeitos às contrariedades próprias. Ávido por tudo aquilo que o agite e o perturbe, parecendo criar tormentos que só dependem de si mesmo para evitar. Haverá maiores tormentos do que aqueles causados pela inveja e pelo ciúme? O que eles não têm e os outros possuem causa-lhes insônia, gera vertigem, dá vontade de menosprezar. Pobres insensatos, nem sonham que amanhã será preciso deixar todas essas inutilidades cuja cobiça envenenou suas vidas! De quantos tormentos se poupa aquele que sabe se contentar com o que tem, que não procura parecer mais do que é. Será sempre rico se, ao invés de olhar para cima, olhar sempre para baixo de si, quando verá pessoas que têm menos.
Ao ingressar na câmara escura, não cabia olhar para cima nem para baixo, somente para dentro de mim. Para dentro de meu espírito. Como conseguir que meu estado de espírito permaneça forte? Quando grande parte do que chamamos de medo de morrer provém do medo de que nossa vida possa não ter tido sentido, de que talvez tenhamos vivido em vão ou de que nossa existência não tenha feito diferença para nada nem para ninguém.
Eis que na madrugada de 10 para 11 de outubro de 2015, domingo, sofro um infarto que interrompe meu sono, horas antes de enviar este capítulo já fechado para os leitores. O medo de morrer, lugar comum entre nós, fez com que eu tivesse minimizado o prenúncio do infarto através de dores no peito e respiração ofegante, vencidos apenas dois quarteirões.

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Antonio Carlos Gaio
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