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O HOMEM FAZ PARTE DO ESPÍRITO

O homem é que faz parte da cadeia evolutiva do espírito. Não o contrário. O espírito é que contém a verdadeira vida. Mas, para evoluir, tem que encarnar. Só por assim dizer não deduzimos, em virtude de necessitarmos enxergar ou poder tocar nos espíritos para concluir que não são falsos. A matéria para os espíritos é uma passagem obrigatória com o intuito de vencer obstáculos e não cometer bisonhos erros que costumamos reproduzir a cada encarnação, tendo como finalidade alcançar um grau de consciência elevada. 
Com o espírito comprimido no corpo humano, a mente não voa como ocorre na expressão extrassensorial, apensada como anexo a um roteiro previsto que somos conduzidos a desenvolver em vida e do qual não podemos nos furtar. Em face de poder ser comparado a um esporte radical, sequelas sobrevêm se os riscos assumidos ultrapassam o limite tolerável, que nunca é claro o suficiente para nos alertar do real perigo. Até porque é o nosso livre-arbítrio quem decide. 
Ao largo do rio Ardèche, na França, foram descobertas figuras rupestres na caverna de Chauvet em 1994, que datam de 35 mil anos de idade, aproximadamente, desenhadas com o uso engenhoso de perspectiva em linhas elegantes e sombras delicadas, representando não o apogeu da arte pré-histórica, mas sim os primórdios da expressão artística mais antiga da Humanidade. Na mesma época em que o homem de Neanderthal (Idade da Pedra Lascada) desapareceu para dar lugar na Pré-História ao homem de Cro-Magnon, versão mais antiga do Homo Sapiens, que cimentou os primeiros alicerces da civilização. Quando, durante décadas, diversos estudiosos defenderam a tese de que a arte teria avançado em lentas etapas, dos desenhos primitivos às representações naturalistas, como se obedecendo a um pré-determinismo natural à cronologia da evolução.    
Chauvet é um imenso salão subterrâneo adornado por imagens de leões, rinocerontes, cavalos e mamutes. As pinturas são de uma sofisticação jamais vista. Próximo à entrada da caverna, um pigmento vermelho de óxido de ferro traça uma testa protuberante e uma tromba em formação de calcita, transformando seus contornos em um mamute em miniatura. Os ursos costumavam lá se refugiar, deixando suas pegadas no chão – já foram achados 147 crânios. Um deles foi colocado sobre uma laje de pedra retratando um altar para se adorar sua imagem. No chão, restos de fogo, ossos de animais e até pegadas na lama de homens e mulheres que lá estiveram há milhares de anos. 
Os animais reproduzidos nas paredes da caverna eram os mesmos com quem dividiam o espaço na Natureza e, não raro, os homens abatessem com toscas lanças que antecederam a Idade dos Metais. Matar para sobreviver ou ter o que comer não os impediu de cultuarem, através da pintura, animais selvagens tanto quanto eles, do ponto de vista de entregues à própria sorte. Em circunstâncias hostis tanto quanto às que nos circunscrevemos hoje, se levarmos em conta a falta de solidariedade, a hipocrisia com que nos tratamos e a dificuldade em assimilar os fatos tais como são. Imaginem se estivéssemos cercados por ferozes alienígenas! Estaríamos fadados à extinção por absoluta falta de união. O que configura um estágio evolutivo ainda pobre.  
Ninguém nunca habitou a caverna Chauvet, embora pré-históricos certamente se dirigissem até lá para se imantar com a sobrenaturalidade do santuário subterrâneo. As pinturas foram ganhando identidade com o auxílio de tochas na escuridão de câmaras sombrias, como que delineadas por xamãs com propensão a entrar em transe, aos quais se atribui o dom de invocar e incorporar espíritos, e fadados à premonição do que estaria por se extinguir.
O que fazer se ainda duvidam do Plano Espiritual? Submissos à força da gravidade? Se só enxergam na finitude do homem o Universo em desencanto! Não aceitando, mesmo olhando para os astros, que o mundo é muito maior do que imaginam e não se esgota aqui. A continuidade é que não nos é revelada. Apenas figuras rupestres como sinais de vida no espírito. 
Não foi por outra razão que ruiu parte da rocha escarpada acima da entrada original da caverna Chauvet, lacrando-a e preservando as obras de arte dos artistas pré-históricos. Redescoberta, constatou-se que o clima estável no interior da caverna – menos 13,5ºC com umidade de 99% o ano todo – contribuiu para o seu notável estado de conservação, onde os espíritos se manifestavam diante da credulidade do povo local em sua simplicidade.
Antonio Carlos Gaio:
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