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“MANCHESTER À BEIRA-MAR”

Manchester À Beira-Mar

Um filme triste, muito triste mesmo, ao qual a plateia assiste calada, em tom altamente respeitoso, senão com lágrimas nos olhos, comovida até as raízes do cabelo com os detalhes que vão sendo revelados, pouco a pouco, no drama com ares de tragédia do roteirista (“Gangues de Nova York”) e diretor Kenneth Lonergan. A trama do filme frequentemente alterna passado e presente de um homem, que mescla silêncio com murmúrio, passando a ser tutor do filho de 16 anos de seu falecido irmão, disposto em testamento sem consultá-lo. Mas não é um melodrama e tampouco um dramalhão. Protagonizado por um lacônico Casey Affleck (irmão do bonitão Ben), eleito no Globo de Ouro melhor ator, que nos deixa à beira de uma crise nervosa na melhor cena do filme, quando revê sua ex-esposa Michelle Williams (cada vez melhor) e rememoram o pesadelo de como foi o fim surpreendente da família a que um dia se propuseram. Rodado na gélida orla norte de Boston, uma América branca em que quase não se vê negros. Com personagens tão bem construídos por Lonergan, considerado um decifrador de personalidades, contraditoriamente o filme gira em torno da impossibilidade de revelar o que de fato sentimos diante dos dramas que vão se desenrolando em nosso cotidiano, a exemplo de amar alguém e o medo de a perder andar de braços dados com a felicidade, ou o desejo de voltar a ser feliz depois de atingir o olho do furacão, ou mesmo não conseguir superar e se transformar num Dom Casmurro.

Antonio Carlos Gaio:
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