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“O PACTO DE ADRIANA”

A CRÍTICA DA CRÍTICA

A documentarista chilena Lissete Orosco descobre que sua tia Chany fora mais do que colaboradora do regime sanguinário de Pinochet. Bem-sucedida, extrovertida, titia era a alegria das festas da família, a referência das sobrinhas. Passou a morar no exterior ao tempo que Pinochet virava pó e, quando voltava, vinha carregada de presentes para as sobrinhas. Lissete Orosco, com o filme “O pacto de Adriana”, se encarregou de desmascarar a verdadeira face de Chany, aliás, Adriana Rivas. Em 2011, viajou para a Austrália e não mais voltou para o seu país, sob a ameaça de extradição de modo a enfrentar julgamento que poria a torturadora na prisão. Embora ela negasse envolvimento com torturas do princípio ao fim do filme (ou de sua vida). A despeito de ter trabalhado na famigerada DINA (Dirección de Inteligencia Nacional), a polícia política de Pinochet, responsável por prática de tortura, assassinatos e desaparecimentos de opositores do regime. Adriana reafirma que não sabia de nada do que se passava, apesar de íntima do general Manuel Contreras, o chefão da DINA, considerada a “Gestapo chilena”. Além da cínica se espantar que a associem a crimes tão hediondos. Esperava obter um filme que endossasse a sua versão e que fora uma vítima inocente de tempos inclementes. Arrependeu-se quando o filme se tornou o resultado de um terrível processo de descoberta pessoal e política da diretora Lissete Orozco. Um documentário de investigação de crimes políticos por parte de alguém nada mais nada menos do que um parente, e não de um que sofreu as consequências, interrogando de maneira insistente, sem se intimidar, a própria torturadora, e indo atrás de colegas de “trabalho” da tia, recolhendo depoimentos de estarrecer. Até da própria Adriana, que não omite que frequentou essa gente e usufruiu dos privilégios do poder, reconhecendo a bandida que foram os melhores anos de sua vida: “Eu era de origem humilde, quem imaginaria que um dia estaria em embaixadas, ao lado de presidentes da república?”, deslumbra-se. Segundo ela, era apenas uma secretária, que se tornou útil porque sabia inglês, depois um curso sobre inteligência militar, capacitando-se a servir ao governo militar nazista. O jornalista Javier Rebolledo, autor de um livro sobre a DINA, “El Despertar de los Cuervos”, afirma que a política desse tipo de organização era “não deixar ninguém de fora”. Todos deveriam ter as mãos sujas de sangue. Desse modo, criava-se uma aliança em que ninguém poderia incriminar ninguém, pois todos estavam envolvidos. Um pacto de assassinos, que revela o destino de uma moça comum que se vê tentada pelas benesses do poder a participar de uma república de genocidas, retrato fiel de como as ditaduras criam um ambiente propício para expressão dos piores instintos das pessoas.

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Antonio Carlos Gaio
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