É muita pretensão dizer que só é real o que a gente consegue ver e provar e que não existe nada mais além disso. Deve-se simplesmente cultivar a humildade de que não sabemos tudo. Se há temas que a própria ciência não consegue explicar. Como os inimigos irão voltar na próxima reencarnação no seio de uma mesma família, onde o desafeto será enxergado como irmão. Os amigos retornarão como bênçãos que não nos eximirão da prova, mas tornarão a travessia mais suave, um presente providencial que fez pôr merecer, por vezes chegando como pais que acreditam em nós ou como filhos que despertam nossa melhor versão. Os amores serão reencontros, e se a vida recompõe os encontros é para que aprendamos o que ainda não soubemos amar.
A Lei da Reencarnação trazida ao nosso conhecimento por Allan Kardec e usualmente dissecada por Chico Xavier, na qual o Espírito Emmanuel ensina que o lar é oficina de burilamento da alma em que nele os antigos desafetos regressam em laços consanguíneos para que o perdão deixe de ser uma ideia vazia ou sempre postergada e se torne pão repartido com a paciência em curso. Onde havia débito, a convivência diária paga em prestações de ternura; onde havia orgulho, a proximidade pedagógica o faz quitar a dívida com humildade; onde havia fuga do problema em si, o cotidiano convoca presença e responsabilidade. Não se trata de aceitar os abusos cometidos por um pai autoritário, irmão difícil ou filho rebelde, mas de transmutar o ressentimento em diálogo honesto e na oração que pacifica. Reparar o erro não é submeter-se, é alinhar-se ao bem e devolver dignidade a si e ao outro.
Entre resgates e afeições, a família espiritual se expande para além do sobrenome. Quando adotamos a pedagogia restauradora de Deus, adversários se convertem em professores e companheiros em altares de gratidão. E, pouco a pouco, os que voltaram para reparar, tornam-se irmãos, e os que já eram irmãos, revelam-se dádivas.
A única lição que importa é amar, e que transcende a atração física, construído através de muitas vidas em que a desencarnação não consegue sepultar e que, em meio a lutas travadas no passado, vai conquistando uma luz inextinguível, até que as duas almas escolhem caminhar juntas, suscitando o “Te conheço de algum lugar?”, tamanha a afinidade em que ambas as almas se reconhecem.
Nada é por acaso, existindo um planejamento sagrado para os laços de sangue, o qual Allan Kardec explicita como a Justiça Divina funciona através dos mecanismos compensatórios da reencarnação e da Lei de Causa e Efeito, quando a convivência forçada é a única cirurgia capaz de extirpar o câncer do ódio. Para assim, ao longo do tempo, se construir a paz.
Deixe um comentário