Palestra
Participação em mesa-redonda com Luís Giffoni, Alberto Villas, Manuel da Costa Pinto e mediação de Marcia Tiburi, no evento Fórum das Letras, na Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP – MG, em 8 de novembro de 2008
A professora Letícia Malard, da Faculdade de Letras da UFMG, no livro de crônicas de José Bento Teixeira de Salles (cronista do Jornal Estado de Minas), A Estrela Verde, diz que a Teoria da Literatura não encontrou fórmula mágica para conceituar didaticamente a crônica, devido ao seu caráter extremamente subjetivo.
A meu ver, o cronista tem de funcionar como um radar que rastreia no universo notícias e assuntos que repercutam na sensibilidade do leitor e, em estilo confessional, adaptar essas histórias em forma de conto, de modo a encorajar o leitor a querer interagir com o cronista, como se estivesse conversando com ele, enquanto o lê.
Como sou uma ratazana de cinema, conformado em não poder ler todos os livros que eu gostaria e precisaria, faria um paralelo da crônica com o curta-metragem no cinema. O diretor tem cinco minutos para transmitir sua mensagem; caso contrário, ao final, o público manifestará seu desapontamento. A dramaturgia no cinema e no teatro exige um conflito para desenvolver a trama e encaminhar para um desfecho. A crônica não está muito longe ao buscar uma nuance diferente do que a mídia veicula. Mesmo que o assunto não se vincule à política e ao cotidiano.
Como, no meu caso, quando derivo para a espiritualidade e enfatizo que a vida continua no Plano Espiritual, ou como venho desconstruindo o homem, que vem reagindo muito mal à evolução sofrida pela mulher e interferindo na qualidade dos relacionamentos e na crença no amor.
Premido pelo espaço e pelo tempo, o cronista entra em conflito de como fazer para entrar na cabeça do leitor, sutilmente, como o arrastar de uma serpente.
Assunto em política não falta. Traição, contradição… “eu não sabia”! O que interessa não são as propostas de quem quer se eleger e sim o seu caráter. No futebol, o fim da lei do passe acabou com o regime de escravidão e o jogador se tornou mercenário, destruindo com as tradições de clubes de mais de 100 anos e encaminhando o torcedor ao inferno astral.
Receita para crônica? Basta escrever numa linha: homens, jovens e velhos, não estão aceitando que as mulheres tomem a iniciativa de pôr um fim em relacionamentos e casamentos, abandonando-os à sua própria sorte. De Lindemberg ao jornalista Pimenta Neves. Mas isso é uma tese!
Receita para crônica? Nelson Rodrigues. O anjo pornográfico. Comecei a lê-lo com 9 anos. A vida como ela é, na Última Hora. Entrei em contato com os autores russos através de sua coluna de futebol. Devo ao futebol a porta de entrada para me interessar a dissecar a natureza humana.
Frustrante mesmo é quando o leitor, sempre com boas idéias, lembra que ficou faltando isso e aquilo outro. Tarde demais para reescrever. Portanto, tentem imaginar comigo, já que estamos numa mesma onda, sincronizados dentro do espírito de colher histórias do inconsciente coletivo, essa grande árvore da vida em cujas raízes se guardam outras encarnações e as memórias de nossos antepassados queridos.
Sintonizados na mesma freqüência, histórias que se transformarão em crônicas e que chegarão onde você deseja, por estarmos antenados e não podermos escapar da realidade presente, sob o risco de ficarmos ultrapassados. A crônica tem que ter alma – não é um mero espaço para desenvolver matéria jornalística ou reportagem. Não pode servir de panfletagem política e o cronista se investir de cabo eleitoral, como só acontece. Cabe o exercício de estilo, mas o cronista tem que ser transparente e mostrar sua cara, para o leitor se tornar seu cúmplice.
Enquanto o cineasta procura espirrar sua mensagem no The End, a crônica busca na essência o que dizer, sem verborragismo e não necessariamente conclusiva. Com mágica, mas sem truque. Se possível, transcendendo o universo a que estamos condenados: aquilo que só podemos enxergar. Será que eu tracei como receita para uma boa crônica um desafio difícil de suplantar? Sou exigente como todo capricorniano e, para estarmos irmanados na linguagem do pensamento, temos que doar o que possuímos de melhor para que a mensagem chegue no destino certo.
Videos com os principais trechos da palestra A boa crônica tem receita?
2 Comentário para V-) A BOA CRÔNICA TEM RECEITA?