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SUICÍDIO, UM ATO DE CORAGEM OU COVARDIA?

Antonio Carlos Gaio

Capa Livro SuicidioNuma primeira impressão, apressada e superficial, o suicídio seria um ato de coragem: precisa ser muito corajoso para tirar a própria vida. Conseguir voltar-se contra si próprio. Posto que é antinatural cortar seus próprios laços que o vinculam à nossa existência, interromper a conexão com um plano de vida em que não devemos fugir às nossas responsabilidades. A despeito da angústia do suicida já conferir um estado cavernoso, que o associa à morte antes mesmo de se matar de verdade.
Contudo, é como se fosse nadar contra a correnteza, não o levando a lugar nenhum onde possa se sentir a salvo da agonia pré-suicida. Pois a vida continua em espírito, o arrependimento será inevitável, quando lá chegar e tomar consciência do que fez. Repercutindo como uma excelente oportunidade perdida de construir uma bela trajetória, encorpando os valores espirituais necessários para enfrentar as provações a que estamos sujeitos. Uma corrida de obstáculos na qual não divisamos o ponto de chegada e que não cabe desistir, já que, a cada curva, o sol é diferente. Iluminando-nos ou fechando o tempo. Embora ansiemos por uma linha reta ao longo do percurso para evitar surpresas desagradáveis para as quais nunca estamos preparados para assimilá-las – linha reta essa que, quando se apresenta contínua no monitor de sinais vitais em hospitais, significa morte.
O suicida, no entanto, confunde as cinzas mortais com o nada. Nada acontece depois que morremos. Se não é nada, ao menos significa o ser em decomposição. Esqueleto equivale a ruínas. Castelos em ruínas ou decaídos transformam-se em fantasmas e destroem sonhos. O suicida não supõe que o seu ato final configurar-se-á inútil, já que não acredita em outras vidas. Pois as compararia a renovados infortúnios. Não acredita em quem quer que seja depois disso tudo que está sofrendo. Só poderá sobrevir o Nada. Por não haver ninguém que justifique para ele por que passar por tamanha provação.
Por que ser ele o escolhido para submeter-se a tamanho sacrifício que pôs à prova sua força moral, não encontrando saída em suas débeis convicções? Mesmo os que professam fé religiosa podem ser abatidos pela descrença e se suicidarem.
Daí haver quem considere o suicida como um covarde, por não encarar os desafios da vida, procurando vencê-los. Simplesmente abandona o campo de batalha e bate em retirada por maltratarem sua sensibilidade sem dó nem piedade. Julga-se vítima de uma incompreensão sem fim com suas peculiaridades, não raro anunciando seus propósitos suicidas para atingir em cheio o espírito humanitário, no que identifica hipocrisia mal dissimulando crueldade sem par. É um derrotista ao extremo por não encontrar outro meio para reunir forças e energia e cumprir sua missão aqui na Terra como no Céu.
A opinião pública se condói e se abate diante do suicídio, especialmente os espíritas, em vista de ele abortar o caminho natural que temos de perseguir para resgatar carmas e passar a limpo vidas passadas. O espírito encarna no Plano Material com essa finalidade.
O suicida não quer se tratar e passar por uma assistência psicanalítica ou psiquiátrica para não imergir na reflexão do indivíduo adulto e colocar de lado certos aspectos que dizem respeito ao estágio puro e selvagem que caracteriza a infância, mas que continuam remanescentes. Padrão esse de comportamento em que linguagem era igual à expressão do desejo e, na medida em que avançava no tempo, entupia sua mente com conceitos e juízos que o iam confundindo, frustrando e embaraçando, a ponto de revelar o mal-estar de se descobrir nesse mundo completamente inadaptado. Alienado da sua experiência remota, o suicida procura todo tipo de justificativas para entender o que se passa consigo. Culpa o pai, a mãe, o barulho que vem do vizinho. Culpa o fundamentalismo islâmico e os Estados Unidos. Culpava o comunismo e o capitalismo selvagem. Culpa os políticos. Culpa o amor não correspondido. Culpa a indefinição de seu sexo. Culpa o achincalhe no colégio. Culpa a humilhação e a discriminação flagradas no dia a dia. Enfim, culpa a natureza humana. Só não deseja olhar para dentro de si e buscar na própria alma as pegadas de sua trajetória e as motivações que são de sua inteira e intransferível responsabilidade na condução do próprio destino, seja para se matar ou continuar a viver – ele e suas circunstâncias. O suicídio em vida.

Antonio Carlos Gaio
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