NADA IMPEDE QUE O ESPIRITISMO SEJA TRATADO COMO RELIGIÃO

Maria Bonomi, gravadora, escultora, pintora, muralista, hoje com 90 anos, que considerou a arte como um ato suicida, se o artista trabalha sem saber para quem, montou uma instalação em que se destacava um piso branco no chão no qual os visitantes nele escreviam do próprio punho, sem notarem para que rumo os levavam: “A vida é única, mas a existência é eterna (ou seria resiliência?)”; “O tempo não existe”; “Vivo condenado à liberdade perpétua” (uma ode ao livre-arbítrio).
Muitos consideram o espiritismo como religião. No hospital, ao ser internado, o enfermo se acusa como espírita, até para atrair a proteção dos Espíritos. Mas o espiritismo difere das religiões por não ter dogmas nem cultos religiosos, no máximo, uma doutrina. Não há um monge, um imã, um padre, um pastor, um rabino, um patriarca, um bispo, muito menos uma hierarquia obediente ao Papa, uma cidade ou local sagrado como o Vaticano, Meca, Jerusalém, um livro sagrado como a Bíblia, Alcorão, Torá, muito embora o Espiritismo se socorra do “Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, em suas 1.018 questões. Todo trabalho no espiritismo é voluntário e ninguém é remunerado. Sem a necessidade de uma roupa específica, como o paramento em padres. Inexiste a cobrança de dízimo, não é preciso pagar nada para frequentar o centro espírita. Tampouco a existência da canonização nem a idolatria dos santos, o que não impede o povo de eleger um espírita que alargou as mentes e mostrou um Mundo melhor que ainda não se havia enxergado, funcionando à base de encarnações e reencarnações sucessivas.
No Espiritismo, aprendemos que o espírito não tem sexo. Somos seres imortais em constante evolução, e o corpo físico é apenas um instrumento temporário para dar conta de nossa trajetória aqui na Terra. A reencarnação é uma jornada de aprendizado para, no ciclo evolutivo, galgarmos mais alguns degraus rumo a nos tornar mais humanos, fraternos e sensíveis. Ao longo das vidas, reencarnamos em diferentes papéis sociais, culturais e familiares. Cada existência demanda de nós desenvolvermos virtudes como o respeito, o amor e a empatia, não adotando a cultura do cancelamento, apenas porque não simpatizamos com o primeiro que surgir à nossa frente.
A homossexualidade, portanto, não é erro, nem castigo. O que realmente importa não é o gênero ou a orientação, mas como amamos, como respeitamos e como crescemos espiritualmente em nossas relações. A doutrina espírita nos convida à compreensão e não à discriminação. O preconceito, sim, é uma falha moral que atrasa a evolução do espírito. O amor é sempre aprendizado, uma verdadeira escola. E, onde há amor verdadeiro, Deus sempre se faz presente, abençoando a união.
Mas nada impede que o espiritismo seja tratado como religião, até porque depende da fé, e fé remove montanhas, chegando a curar feridas que procedem de vidas passadas. O Espiritismo também se incorpora aos avanços da Ciência, querendo distância do antipático negacionismo, bem como se detém nos poucos que praticam a indulgência. Se a indulgência distingue os defeitos alheios, evita falar deles e divulgá-los. Ou, então, tentam amenizá-los com uma desculpa pronta e aceitável, e não se comportar como aqueles que, parecendo atenuar a falta, acabam por exacerbá-la de um modo maldoso. O indulgente não faz observações ofensivas, não carrega na censura, apenas conselhos, e muitas vezes velados. Quando você se lança em críticas desenfreadas e severas, deixa de julgar seus próprios atos e pensamentos para se ocupar com o que seus irmãos fazem. A indulgência acalma seu espírito e reergue sua personalidade, enquanto a severidade irrita, discrimina e distancia.