Animais podem entender o que está acontecendo. Cães e gatos conseguem sentir que o seu tutor irá morrer ou já morreu. O cachorro, se sentir que o seu dono já morreu, pode vir a latir sem parar e até enlouquecer, não parando de correr para tudo quanto é lado.
Quando um lobo se encaminha para perder a luta contra outro lobo irmão e entende que não tem mais chances de ganhar, o lobo perdedor oferece pacificamente a jugular ao adversário, como se dissesse: ′′Perdi, vamos acabar com isso de uma vez”. Porém, nesse momento, o inacreditável aparece. O lobo vencedor, inexplicavelmente, se detém, impedindo-o de matar. Algum mecanismo primário, embutido no DNA, é disparado no lobo vencedor e lembra-lhe que a espécie é mais importante do que o prazer de eliminar o adversário. Ninguém chamaria o lobo de covarde que se entrega, nem comiserativo no instante em que se paralisou. Nem vencedor nem vencido. Os dois lobos afastam-se e a roda da vida contínua.
Em 2011, João Pereira de Souza caminhava pelas praias do Nordeste brasileiro, quando viu algo estranho entre as rochas. Um pequeno pinguim, completamente coberto de óleo, lutava para respirar. Os olhos frágeis imploravam por ajuda. João sabia que, se não fizesse nada, ele não sobreviveria. Com mãos firmes e coração aberto, pegou o animal nos braços e levou-o para casa. Durante dias, limpou-o, alimentou-o com sardinhas frescas e vigiou seu sono. Aos poucos, o pinguim recuperou as forças. Quando João percebeu que ele estava pronto para voltar ao mar, sentiu um aperto no peito. Mas sabia que era o certo a se fazer. Colocou-o na água e observou-o enquanto o pinguim sumia no mar. Meses depois, João ouviu barulhos familiares na praia. Quando se virou, não acreditou no que viu. O pequeno pinguim, contra todas as probabilidades, havia voltado. Ele atravessou o oceano e encontrou o caminho de volta até seu salvador. Desde então, todos os anos, o pinguim nada cerca de oito mil quilômetros da Argentina e do Chile para reencontrar João. Ele chega em fevereiro e fica até junho, como se aquele pedaço de terra fosse seu verdadeiro lar. O pescador e o pinguim criaram um vínculo inexplicável. João o alimenta, dá banho e até o carrega nos braços. O pinguim retribui com afeto e uma lealdade que poucos acreditariam ser possível.
Em 1989, o pescador costarriquenho Chito Shedden encontrou um crocodilo ferido no Rio Reventazón e cuidou dele por meses até que se recuperasse. Eis que o inesperado acontece: o crocodilo resolveu não voltar para as águas do rio e ficou com Chito por mais vinte anos. Nadavam juntos, brincavam e se comunicavam por sinais. O crocodilo tinha 50 anos, pesava 445 quilos e media quase cinco metros de comprimento, o único exemplar “domesticado” do mundo. O vínculo deles era tão profundo que até fizeram shows públicos demonstrando a relação incomum entre humanos e répteis – impossível, real e única.
A ducentésima quadragésima sétima intervenção espiritual, em 22 de agosto de 2025, se iniciou com cânticos no intuito de abrir caminho para os espíritos curadores, prosseguindo com a leitura de “Vinha de Luz”, 155 (“Tranquilidade”), de Chico Xavier pelo Espírito Emmanuel, e estudo preliminar do capítulo 10 (“Bem-aventurados os que são misericordiosos”), itens 7 e 8 (“O sacrifício mais agradável a Deus”) do livro de Allan Kardec, “O Evangelho segundo o Espiritismo”.
Em 1899, Friedrich Nietzsche, uma das vozes mais intensas da filosofia que marcou época, foi internado num sanatório e logo viria a morrer. Começou a distanciar da lucidez quando, em janeiro de 1889, em Turim, ao testemunhar um cocheiro espancando um cavalo, ele teria corrido até o animal abraçando-o e, chorando, beijado sua cabeça. Logo depois, caiu em colapso sem retorno. Sua mente não suportara a violência gratuita infligida ao ser mais frágil. Esse gesto tornou-se lendário ao carregar uma força simbólica que atravessou o tempo: o pensador apologista de “Deus está morto”, que, por extensão, negava a validade da crença em Deus como um valor fundamental da verdade e do sentido da vida, sucumbira justamente diante da compaixão. O homem que acreditava na superação humana, no super-homem, uma das fontes do ateísmo, fora derrotado pela intensidade do sentir. Sua loucura, paradoxalmente, foi um testemunho da humanidade que ainda resistia em si.
Aprendemos a voar como os pássaros, a nadar como os peixes, mas ainda não aprendemos a conviver como irmãos (Martin Luther King).
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