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CINE VENEZA

O Cine Veneza no Rio de Janeiro, e também o Ópera, Cinema 1, Ricamar, Roxy, Rian, no eixo Copacabana até Botafogo, primavam por boas salas de exibição onde o casal poderia se refugiar numa das laterais à frente e dar vazão ao que ainda era proibido nos anos 1970. A sexualidade plena do jovem casal, enfastiado de gozar sujeito a limites restritos, mas sem ir às vias de fato.
A virgindade estava sendo desconstruída a golpes de picareta, necessitando se livrar da vigilância dos pais, que queriam impor seu código de conduta, como se seu modelo ainda merecesse aprovação inconteste. Se o marido nem se importava com o orgasmo da esposa, julgando perigoso ela exceder os limites adequados a uma respeitável mãe de família. Vai que a senhora se engrace com um vagabundo desses que abundam em Copacabana e que não fazem nada na vida – apenas são rufiões ou garanhões.
Os lanterninhas que punham a lanterna na cara do casal saliente para preservar a moral na sala de exibição estavam desaparecendo. O importante era o dinheiro em caixa. O casal ser atraído para um nicho escuro do cinema e se entregar à loucura da paixão a meio caminho de frequentar o motel de alta rotatividade, destroçada a virgindade.
As mãos falavam por si. Era solicitado à manceba que viesse trajada de uma blusa cavada ou decote pronunciado para o mancebo enfiar a mão nos seus seios e não a deixar em paz enquanto não se buscasse outros atrativos que pudessem superar o aperitivo. Não cabia ir sem sutiã, todo mundo iria reparar no ônibus ou na rua – a decência acima de tudo.
Não é necessário observar que não havia penetração e conexões derivadas, só funcionando a mão boba e beijos, que se trifurcavam cinematográficos, demasiadamente salivados e antropófagos. O que levava ao descontrole e desequilíbrio de ambos, encerrando a fase oral e se dirigindo ao realismo concretista sob a expectativa de um fim, no qual relaxariam. Embora isso não seja uma regra, pois há quem vença barreiras e apele para técnicas variadas e de prazer elástico, sem que se possa fixar um término.
O casal saía do Cine Veneza com marcas no pescoço e arranhões generalizados, afora a habitual mancha na calça que demarcava a prova do crime, a ser investigada pela mãe defronte ao tanque. Feliz que nem pinto no lixo, baratinado, nas nuvens, vendo estrelas no céu limpo, a satisfação garantida.
Tão boas recordações deixaram. Tamanha felicidade inocente e plena, que talvez superasse a lua de mel. Por manter o casal na ilusão do namoro, distante da realidade entre as quatro paredes, que costumam sacrificar muitos relacionamentos, a despeito da alta expectativa.

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Antonio Carlos Gaio
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