Não! Mais um livro que fala de amor? – alguns poderão interrogar, não escondendo uma certa impaciência. Afinal, muito já se escreveu sobre as relações amorosas e o casamento. Em tempos de individualismo exacerbado, o autor se ocupa, na maior parte de seus contos, com a temática dos encontros e desencontros afetivos, sem preocupação em buscar verdades definitivas, apenas reafirmando o grande desafio da construção do amor. Cronista afiado e antenado com as mazelas contemporâneas, às vésperas de cruzarmos a linha de chegada da maratona que foi o século XX, nos remete a questões tais como: a incapacidade de se entregar ao amor; a opção por modelos onde se cristalizam falsas certezas para fugir dos imprevistos de viver sentimentos e desejos de forma plena; a dificuldade da mulher em conciliar ganhos e perdas advindos do processo de emancipação; o estado atônito dos homens diante da evolução feminina; a dificuldade de contribuir para a transformação do outro numa relação de amor; a relação de ambivalência entre o desejo de finitude e de eternidade, que impede o fruir do presente, sem os fantasmas do passado e sem podar as potencialidades do futuro; a dificuldade de reconhecer que a gente não sabe o lugar certo onde colocar o desejo – como cantou o poeta Caetano Veloso – e que é necessário estar atento para sentir/perceber quando um encontro, ao invés de nos fortalecer, nos enfraquece. Passeia por outros temas. Uma estocada num tipo de político que, infelizmente, ainda elegemos, outra na mídia, nos equívocos de pais e de mães que comprometem a vida adulta. Como não poderia faltar, a busca por caminhos espirituais, experiência tão presente nas duas últimas décadas, face ao esvaziamento ideológico e à efemeridade do mundo pós-moderno. Através de texto provocante e expresso de forma a nos instigar imagens, como se estivesse com uma câmera nas mãos, o autor mergulha fundo nas divagações e angústias do nosso universo interior, quase sempre silenciadas. Neste seu primeiro livro, composto de 34 contos-crônica, A. C. Gaio escreve deixando transparecer garra e paixão, soltando enfim as amarras, para navegar por trilha há muito querida e adiada, com olhar firme, sem se deixar iludir por nada que o afaste novamente.
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