CRÍTICA DA CRÍTICA
Passado um mês da apuração do Oscar 2025, se pode avaliar que a nossa frustração pela Fernanda Torres, de 59 anos, não ter sido escolhida para melhor atriz ser compensada pelo Oscar do melhor filme internacional (estrangeiro), “Ainda estou aqui”, sob a direção de Walter Salles, o diretor de cinema mais rico do mundo (um dos proprietários do Itaú) – imperdível! E pelo fato de Fernanda Montenegro (mãe da Fernandinha e imortal da Academia Brasileira de Letras), de 95 anos, e que igualmente não conquistou o Oscar em 1999, nas mesmas condições, agora estar brilhando no filme “Vitória”, ora em exibição, dirigido por Andrucha Waddington e Breno Silveira – imperdível!
Vitória é uma senhora solitária que, aflita com a violência, passa a tomar conta da sua vizinhança, começando a filmar da janela de seu apartamento a movimentação dos traficantes de drogas de Copacabana (Ladeira dos Tabajaras) com a intenção de cooperar com o trabalho da polícia.
Contudo, “Anora”, que conta a história de uma jovem stripper do Brooklyn que se casa com o filho de um oligarca russo, atropelou “Ainda estou aqui” como o melhor filme, além do Oscar de direção, roteiro original e montagem de Sean Baker, e a atriz Mikey Madison roubar a cena numa película aparentemente lugar-comum, mas que mistura altas doses de drama e arranca risadas do público, de forma inédita – imperdível!
Fernanda Montenegro também entra na locução do filme de Flávia de Moraes sobre o adeus aos palcos de “Milton Bituca Nascimento”, para exaltar mais ainda alguns aspectos particulares da sua genialidade, quanto ao seu processo de criação, que até desconhecíamos. Seja o espiritismo, a associação com a Natureza e as inúmeras modalidades do canto. Assistindo ao filme, Milton Nascimento merece se reunir à nata da música brasileira, como Villa-Lobos, Tom Jobim, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, João Gilberto – imperdível!
No filme “O Brutalista”, dirigido por Brady Corbet, o ator Adrien Brody ganha o seu segundo Oscar, ao interpretar o arquiteto visionário húngaro László Toth que, em 1947, foge da Europa devastada pelos nazistas em busca de um novo começo na América, para reconstruir seu legado e testemunhar o surgimento da América moderna, quando tem a chance de projetar um grandioso monumento modernista que moldará a paisagem do país. No entanto, o caminho para a realização de seus sonhos é repleto de desafios e reveses inesperados, que os levarão a enfrentar tanto triunfos quanto tragédias ao longo de quase três décadas – imperdível.
Porém, o filme que surpreende é “Flow”, de Gints Zilbalodis, na primeira vez que a Letônia conquista um Oscar (de melhor animação). No dia em que o planeta Terra for inundado pela elevação das águas (fenômeno do superaquecimento), os animais, que preveem tragédias, detectarão primeiro o perigo e fugirão para não sei onde. Mas quatro deles, no filme, um gato, um cachorro, uma garça e um lêmure se salvam numa embarcação, que corresponderia à Arca de Noé, aprendem a sobreviver dentro de novas condições de respeito pelo próximo, e que não corresponderiam às antigas regras de o homem ser o lobo do homem, e se descobrem, olhando para o seu próprio reflexo na borda de um trecho d’água, como um espelho a refletir sua imagem, que são o que são. Não mais animais, nem poder-se-ia dizer que se humanizaram, pois que estes haviam deixado de existir, já que nunca conseguiram agir à altura de ser humano. Imperdível o filme e o nosso futuro.
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