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SÓCRATES E A IMORTALIDADE DA ALMA

Sócrates sempre dizia que sua sabedoria era limitada à sua própria ignorância – “só sei que nada sei”. Nunca proclamou ser sábio. Duvidava de que a virtude pudesse ser ensinada, pois não obrigatoriamente os filhos saem de acordo com pais moralmente perfeitos. Enquanto perambulava pelas ruas de Atenas, sem ter organizado nada que lembrasse uma escola, no seu caso, uma universidade. Ou haver deixado algo por escrito à posteridade. Seu método consistia em induzir as pessoas a usarem a cabeça ao levantar questões, especialmente a respeito de moral, assumindo humildemente a atitude de quem quer aprender. Ao mesmo tempo em que ia multiplicando as perguntas e problematizando conceitos que o cidadão tinha como verdades absolutas. Sua intenção era de que a presunção do debatedor se transformasse numa armadilha e o levasse a cair em contradição, acabando por expor sem subterfúgios os seus equívocos, consequência da própria ignorância, mal de que todos padecemos.
Contra o espalhafato da ignorância, Sócrates só dispunha de uma arma: a ironia. Foi assim que ele deixou a descoberto muitas das fraquezas do pensamento ateniense. Um confronto com Sócrates representava um risco enorme diante de sua capacidade de verbalizar. Como superar o choque do orgulho ferido? Procurando compreender o processo catártico que Sócrates desenvolveu, culminando por extrair de si a resposta em tudo lógica e compatível aos problemas expostos. Pois Sócrates dirigia as perguntas com o fim de obter, por indução de casos particulares e concretos, um conceito, uma definição geral do objeto em questão.
Como disse Platão: “quem quer que esteja em contato com Sócrates e põe-se a raciocinar, qualquer que seja o assunto tratado, é arrastado pelas espirais do diálogo e inevitavelmente é forçado a seguir adiante, até que, surpreendentemente, vê-se a prestar contas de si mesmo e do modo como pensa, vive e outrora viveu”.
O perfeito conhecimento do homem foi e é o objetivo de todas as suas especulações, e a moral, fonte de sua preocupação.
O resultado é que o indivíduo sentia uma verdadeira sensação de iluminação, quando descobria algo de valioso e que nem desconfiava que havia dentro de si. Foi assim que Sócrates conquistou fervorosos discípulos, despertando sua consciência para si mesmos. 
No entanto, a democracia avançava em Atenas e Sócrates colocava em discussão qual seria o melhor Estado para consolidá-la. Os homens mais sábios deviam governá-la, pois eles podem controlar melhor seus impulsos violentos e antissociais. Assim, se afastariam do comportamento de um animal. Ideologia considerada aristocrática, o Estado não reverenciava o conhecimento a tal ponto.
“Quem melhor conhece a verdade é mais capaz de mentir.” De tanto questionar os que se arvoravam falar em nome do saber, da ética e da moral, Sócrates começou a colecionar desafetos. O que é o bem? O que é a virtude? O que é a justiça? O que é a coragem? Incomodava sobremaneira os que ocupavam postos-chave na sociedade, apontando sem piedade os falsos fundamentos em que se apoiavam para decidir sobre o destino dos atenienses.
Aos 70 anos, Sócrates é acusado de perverter a juventude de Atenas – o dia mais desgraçado da história de Atenas. Seus jovens seguidores negavam os deuses de seus pais e do Estado. Foi considerado o líder espiritual de um partido cuja semente era a rebeldia. Assentou-se com indômita presença de espírito no seio do tribunal, irrritando o júri ao vê-lo defender-se com desdém perante a justiça humana, por não ter o que explicar e muito menos desculpar-se. Podia ter se evadido de Atenas, mas não o quis. Preferiu cumprir as leis atenienses, que o declararam culpado por uma pequena margem e o condenaram à pena capital.
Sócrates foi personagem de um período longo da História em que o carrasco não se fazia necessário. A execução da pena ficava a cargo dos condenados, que se suicidavam ou pediam para os amigos ou escravos cometerem a eutanásia. Sócrates não quis escapar da condenação à morte; de forma voluntária, envenenou-se com cicuta. Sua verdadeira causa mortis foi política; Sócrates ameaçou o sistema democrático dominante.
Entrou para a História como o primeiro livre-pensador que se converteu em mártir na defesa de suas ideias e filosofia. Imortalizando sua alma. 
Quando argumentava, passava muita autoconfiança e podia tanto arrebatar quanto irritar seus ouvintes. Acreditava falar em nome de uma filosofia muito maior do que ele mesmo. Pôs em xeque, perigosamente, os que se achavam mais inteligentes do que a média das pessoas. Os pseudossábios que tentam marcar presença e influenciar em todas as épocas. Foi isto que, no fim, lhe custou a vida. Afinal, os que polemizam são sempre malvistos por tirarem a máscara dos hipócritas e acomodados da inércia.
Sócrates dizia ser o mosquito que mordia os flancos de Atenas, uma égua preguiçosa, para provar que ela estava viva. Comparava-se a uma parteira – como sua mãe – que, embora não desse à luz um bebê, trazia-o ao mundo para nascer. Estimulava as pessoas a parirem suas próprias ideias. 
O professor não deve ensinar. Apenas procurar fazer com que os alunos tirem suas próprias conclusões, a partir de pontos de vista isentos de falsos valores, pois o verdadeiro conhecimento tem que vir de dentro, de acordo com a consciência, paulatinamente, sem haver necessidade de espremer o cérebro contra a parede.
A educação para o autoconhecimento.
Sabedor de que a principal missão da existência humana é aperfeiçoar seu espírito, Sócrates ouvia uma voz interior, de natureza divina, que lhe apontava o caminho e como agir. Só o que vem de sua anima, em contato com seu inconsciente, é capaz de revelar o crucial discernimento. Quando traz à consciência um bolsão de conhecimentos que já se encontravam maduros para florescer.
Dialogar com Sócrates era lavar a própria alma, proporcionando alívio com a purgação do que é estranho à sua essência, liberando seu caminho para ter acesso a uma realidade superior.
Sócrates queria que as pessoas se desenvolvessem através da virtude. A virtude não é só alcançada por meio do intelecto ou da razão. A virtude da alma é a sabedoria, que a aproxima de Deus. A sabedoria ganha maior nitidez e profundidade na humildade e não com o acúmulo de saber.
Era seu mister interrogar seus interlocutores a respeito de assuntos que deveriam saber. Devoção, entre outros. Ao constatar que não sabiam do que estavam falando, fazendo uso exagerado de exemplos ou generalizações, descobriu que não sabiam o que julgavam saber e, o que é mais grave, não sabiam que não sabiam. Eureca! O ignorante é arrogante porque pensa que sabe. Sócrates, pelo menos, sabia que nada sabia.
 “Conhece-te a ti mesmo” valeu como um puxão de orelha no homem para que melhor conhecesse a natureza humana e respeitasse os seus limites, não tentando ser mais do que é, nem muito menos Deus. De forma a evitar a presunção de que tudo é fácil saber e assentar os pés em chão firme, como passo inicial para se conscientizar de sua própria ignorância.
Sócrates foi um espírito superior que veio em missão destinada a abrir as fronteiras do conhecimento e provar a imortalidade da alma. Tanto que não pensou em si ao abandonar essa existência, nem temeu a morte por amar demais a vida, tamanho o espírito de confraternização, sempre presente em seu coração, com que retornou ao Plano Espiritual.

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Antonio Carlos Gaio
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