« DOR
Uma evidência mais do que comprovada: chegamos aqui na Terra como se tivéssemos descido de paraquedas em um meio estranho. Completamente nus, sem um tostão no bolso, e já necessitando de sermos agasalhados, bem acolhidos e substancialmente alimentados para que possamos iniciar dentro em breve, e durante toda a vida, a lutar por tudo que pareça grandioso e seja digno para elevar nossa alma. Para, ao final, deixarmos tudo que acumulamos e partirmos sem levar conosco nada de material. Com os nossos entes queridos chorando a nossa partida. A excelência do escritor e dramaturgo Tchekhov (1860-1904) avançou sobre o espiritismo, sem o saber: “A morte é de causar um pavor terrível, mas pior seria a sensação de poder viver para sempre e nunca vir a morrer”. Tchekhov explorou o paradoxo da imortalidade: uma vida sem fim poderia acarretar um tamanho desespero existencial, que faria a finalidade da morte tornar-se um alívio com sabor de amargo-doce.
Espremidas entre as realidades do nascimento e da irreversível morte, sobressai-se a vida em espírito quando ora encarna. Posto que o espírito não morre quando a matéria do corpo encerra seu ciclo e se desfaz, enquanto o espírito almeja transitar da planta espinhosa que vem purgando para brotar como uma flor, que reflita um espírito em evolução consistente.
Costuma-se cultivar a ideia extremamente falsa de que não se pode alterar a natureza com que viemos ao mundo, com o homem se julgando dispensado de fazer maiores esforços para se corrigir dos defeitos, pois que exigiriam muita perseverança para serem eliminados ou mesmo amenizados. Ainda mais que se satisfaz de bom grado com boa parte deles, quando não culpa Deus por ter nascido assim.
Não é o corpo que supre a alma humana com todas as virtudes e todos os vícios; eles são próprios da natureza do Espírito, que pode atuar e modificá-los se estiver munido de uma vontade firme. Do contrário, onde estaria o mérito e a responsabilidade? Do corpo é que não é, pois se extinguirá com a morte.
A experiência não vos prova até onde pode ir o poder da vontade através de transformações verdadeiramente miraculosas que vemos constantemente acontecer? Convencei-vos, portanto, de que o homem somente permanece no círculo vicioso do defeito ou detido na perversão de caráter ou na degradação moral porque assim o deseja; sempre terá oportunidade de sair dessa armadilha, se quiser se corrigir.
Se assim não fosse, a lei do progresso não existiria para o ser humano.
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