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O BLEFE

Ao homem é facultado o poder de ter dois filhos, gerados ao mesmo tempo, com a esposa e a amante. Destinada a esculpir o rebento em sua fábrica, a mulher, no máximo, pode traí-lo estando grávida, ou então, ter dois homens ou mais e depois não saber quem é o pai, necessitando do teste do DNA para dirimir a dúvida atroz. Todavia não esclarecerá se quem a amou mais foi o que lhe fecundou. O pai poderá ter sido justamente quem ela menos queria para pai de seu filho.
A reprodução não cai como um raio na cabeça do homem. Eles não conseguem se bastar na singularidade do ente amado, se acolhem na pluralidade. E transformam-se em personagens de um grande imbróglio em torno de a quem o coração pertence. Contudo, não titubeiam em entrar no túnel do amor por acreditarem que se pode amar mais que a unidade, ao darem uma nova versão a crescei e multiplicai-vos. Agonia e êxtase, pressentem que um dia isso terá um fim, o amor verdadeiro irá aflorar – desejo ou ameaça? Como qualquer peixe, cairão nas malhas. Até por inércia.
Caso contrário, se constituirão em meros instrumentos do desfrute para satisfazer o ego e provar que são amantes maravilhosos. À semelhança de Narciso, tornar-se-ão gays para transar somente com sua imagem, já que o objeto do amor não o realiza como macho.
Essa gente jura de pés juntos que não está preparada para o casamento, o qual chama de relacionamento, quando se trata do encontro das águas – a pororoca. Não admitem que querem e precisam do casamento, mas simplesmente fracassaram. E aí partem para a infidelidade, o troca-troca, a confissão da incompletude. Já que não cabe ser fiel quando não se ama mais, ou nem chegou a amar, não justificando continuar insistindo. O instinto, a inspiração, a poesia, o acaso, o incidente, desviam seus olhos para encontrar uma nova história de amor.
Porém, quando a mulher faz a fila andar o homem estanca seu passo. Não pode mais chamá-la de vadia, mas tenta isolá-la sob o pretexto de pertencer a uma espécie que não merece confiança, capaz de tudo, até de trocá-lo por outro melhor. Com eficiência e rapidez. O que o apavora, com ímpetos de voltar ao passado, quando dava as cartas. Não desconfiavam da autenticidade de seu baralho ou de trunfo escondido na manga. As mãos hábeis na manipulação, uma esperteza reconhecida em meio à cortina de fumaça com que cigarros e charutos disfarçavam a tensão na conquista da vitória a qualquer preço. O blefe como alma do jogo, exaltado pelo misto de ousadia e inteligência, a gênese do percurso do homem.
Hoje a mulher pode dizer na cara do homem que ele é um blefe. A ação do tempo já o fez assimilar que foram-se os anéis, mas ficaram os dedos.

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Antonio Carlos Gaio
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