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A DEMÊNCIA DE PINOCHET

A Operação Condor foi uma ação conjunta das ditaduras do Chile, Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai para eliminar desde comunistas até quem conspirasse contra o regime através da liberdade de expressão. Qualquer afronta era considerada uma agressão às Forças Armadas diante do perigo vermelho.
E foi assim que Pinochet se criou, como salvador da pátria, à frente de uma das caçadas mais longas e sangrentas do Chile que vitimou uma ONU de estrangeiros idealistas, no desejo de mudar a correlação das forças econômicas, de dar um basta em quem leva vantagem sempre.
A farsa acabou. Aos 88 anos, o ditador come o pão que o diabo amassou. Acusado de assassinato pela justiça espanhola num imbróglio que resultou em dezoito meses de prisão domiciliar na Inglaterra, agora é incriminado pelo Senado americano por enriquecimento ilícito – 8 milhões de dólares em contas secretas no exterior.
Paira no ar um sentimento generalizado de que corrupção não se perdoa. Desde que pego com a mão na botija. Foi o caso de Al Capone ao sonegar o imposto de renda. As metralhadas em seus rivais, o contrabando, a corrupção da polícia, tudo passou em branco. Pinochet encaminha-se para a mesma armadilha, inclusive para salvaguardar o envolvimento de americanos ilustres com o compromisso de liquidar opositores de regimes cucarachos. Como Henry Kissinger, Prêmio Nobel da Paz.
Sempre que a Justiça o encosta na parede, Pinochet recorre aos hospitais para revalidar um diagnóstico que apresenta uma progressiva deterioração física e funcional atribuída à sua idade e a uma série de patologias que o incapacitariam a enfrentar um julgamento.
O intocável. Sua filha prega a compaixão pelos anciãos, entende que as famílias dos desaparecidos se sintam magoadas, mas existe o perdão. Seus advogados de defesa agarram-se à idade, a demência senil como lugar-comum. Ambos apelam para cair no esquecimento. Na desmemória.
Um sintoma da demência. A mesma demência pinochetista que comprometeu o pensamento, o julgamento e a incapacidade de aceitar uma nova realidade socioeconômica que se agiganta no curso irreversível da História, no qual não cabem mais insensatos que proclamem novas guerras. Um deprimente final de espetáculo para Pinochet, uma imagem defunta que permanecerá insepulta na história do Chile até que os impasses que puseram os cidadãos uns contra os outros sejam removidos.

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Antonio Carlos Gaio
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