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A FANTASIA É O PIOR INIMIGO DO COMPROMISSO
Quando flagramos alguém inquieto a desejar o objeto de nosso desejo, fatalmente isto aumentará o nosso desejo numa proporção absurda e equivalente ao receio de vir a perder o que faz ferver nosso sangue no delírio extremo da posse. De tão logo cercar a propriedade e não permitir que ninguém a invada, faltando apenas ao homem combinar com o objeto do seu desejo.
Tamanho ímpeto procede de toda mulher ser regida por um fator peculiar, o que a diferencia, tornando-a única e insubstituível, e suscitando a megalomania do homem no desejo de amar a todas, ainda mais se não discriminar, venha de onde vier.
Mas quando uma em especial o arrebata e inspira o desejo de não vê-la escapar por entre suas mãos, mais do que depressa desperta de sua mania de grandeza, esquece das outras e ingressa numa nova realidade: de ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença.
Mas quem acreditará na eficácia do amor sepultar o prazer multifacetado que atira pra todos os lados? Fantasias se sobressaem de qualquer forma e não podem ser enterradas nem com uma pirâmide de pedras, levando o homem a ter mais pesadelos. A sonhar com o desejo impossível e a atração fatal, que põem tudo a perder por insistirem em não ceder a primazia ao Amor.
Se corre a lenda de que o amor pertence ao reino dos fracos e sensíveis, cabendo aos fortes o poder, não é de surpreender que a fantasia prepondere sobre a realidade. Embora seu descompromisso seja total e absoluto e a fantasia usualmente se equiparar a uma bolha, sempre em busca do etéreo.
Então, por que se incomodar com quem surge à sua frente, bela e resplandecente, a ponto de querer tomá-la em núpcias? Será porque a fantasia é irreal e não irá levá-lo a nada, embora dê as cartas no campo da imaginação, e o amor é em carne viva, embora o vincule a compromisso?
A fantasia é o pior inimigo do compromisso. Precisamos do concreto e sentimos medo do abstrato, que expressa o vazio existencial. A fantasia se rende à realidade quando desejamos alguém com todas as forças do mundo e o inimigo se prepara para abocanhá-la. Situação que não comporta vacilo – há que se comprometer, já que a fantasia não lhe servirá de consolo. Se a pessoa de quem nos enamoramos sumir nas trevas, a mecânica do amor obriga à passagem pelo rito do luto para se despedir e deixar a alma vazia.
As fantasias surgem como que por encanto e a ilusão se encarrega de materializar nossos desejos sem maior compromisso. Cabe a você distinguir a quem se abraçar: se à fantasia ou ao espírito denso e vital de uma linda namorada.
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Antonio
Carlos Gaio
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