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A MELHOR DEFESA É O ATAQUE

O capitão Astiz, principal torturador argentino, se orgulhava de ser o agente melhor preparado para matar políticos e jornalistas. Com cara de anjo e olhos azuis, conseguiu penetrar no movimento “Madres de la Plaza de Mayo” e convencê-las de que também era vítima da ditadura. Explorava com maestria o lado maternal das mulheres, ao inspirar necessidade de proteção e carinho, para depois se revelar um demônio. Deu sumiço nas cabeças da organização e assassinou jovens da Suécia, França e Itália, que já pediram sua extradição. Desapareceu com monjas francesas que cuidavam, dentre outros, do filho problemático do ditador Videla.
Cognominado de Anjo Louro, o símbolo da ditadura argentina as encaminhava para um centro de tortura e endereço de uma maternidade clandestina para as presas políticas grávidas. Funcionavam como cegonhas que retiravam seus filhos, logo que nascidos, e entregavam a domicílio a oficiais companheiros de tortura. Para que os criassem e satisfizessem o desejo de ter um filho, face ao panorama estéril que se descortinava no horizonte de famílias de psicopatas. O filho lhes devolveria o senso humanitário e solidário que se esvaía em cada choque elétrico, afogamento ou apagar o cigarro no peito.
Como todo bom matador, um exibicionista. Ostentava o corpo malhado no balneário de Mar del Plata, apesar de sua vida afetiva ser um livro fechado. Nunca manifestou remorso pelo que fez. Também chamado de Corvo, o covarde se rendeu, sem dar um tiro, na guerra das Malvinas.
Símbolo da impunidade, defendido por mestres na arte da sobrevivência política que põem fé na conciliação de não ficar parado no tempo e fechar as feridas do passado. É o Brasil assim pensando que dita cátedra, nenhum presidente foi louvado em sua história ao se mostrar um sujeito duro e intransigente. Orgulhamo-nos de harmonizar o contraditório, de apaziguar os ânimos, de ajustar incompatibilidades, de pôr fim a demandas nascidas do idealismo que geram querelas incontornáveis. E findar na acomodação. A marca registrada de vencer os nossos problemas.
A História exige julgamentos. Desenvolve o senso crítico. Aumenta o grau de informação e expande o nível de consciência. O ato de votar exige esse suporte, tal a inteligência aplicada pelo exército de manipuladores com que nos bombardeiam através da publicidade e da mídia. Os marqueteiros sempre se encontram léguas adiante de nós.
Sobre quem recai a responsabilidade de carrascos, como o que Astiz provocou no seio da tradicional família argentina, ao pôr sob a guarda de verdugos filhos de desaparecidos políticos? Uma monstruosidade a débito dos homens que dirigem os destinos desse planeta. O mesmo perigo que corre no seio dos organismos de segurança, sejam policiais, forças armadas, tropas de elite, espiões, agentes infiltrados ou informantes. Quem pode assegurar que não sejam psicopatas, não detectáveis na admissão, ao confundirem bem com o mal, bem-me-quer com malmequer, lé com cré, conseqüência de uma escala de valores em crise na sociedade global, cuja ética clama por um Deus.
Mas se Deus permite, em função do livre-arbítrio, cabe ao homem corrigir essa enfermidade, antes que seja tarde. Senão, nos converteremos num planeta de terroristas, visto que a melhor defesa é o ataque.

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Antonio Carlos Gaio
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