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A MISCIGENAÇÃO ACABOU COM O PRECONCEITO?
A escravidão no Brasil não criou um apartheid. Rompeu a demarcação da cor que separava as raças, permitindo que mulatos filhos de brancos, nobres ou não, nascessem libertos e tornassem as mucamas mães alforriadas, o salvo-conduto para conquistar o direito a também escravizar e expandir a exploração, com mais capatazes a perseguir seus ex-irmãos. Adicionando à escravidão um toque de perversidade cujo objetivo seria perdurar o regime da chibata em cima dos que mourejavam de sol a sol, enquanto os senhores feudais se fartavam em cima de suas mulheres e as senhorinhas se abanavam de tanto calor. E assim a miscigenação foi engrossando num conluio asqueroso em que o proprietário ditava as condições do abuso e não restava outra alternativa ao africano embarcado no Brasil senão baixar a cabeça. Custou para se levantarem num século de necessidades, em que governos sucessivos não foram condescendentes e naturalizaram o apartheid em favelas e periferia, reduzindo seu poder de reação. E ainda hoje cabeças coroadas afirmam, sem destemor, que no Império havia menos corrupção. Atendo-se ao vil metal e descurando dos valores morais e humanos. Quem iria ter coragem de roubar se o regime monárquico era de cutelo? Afanar o quê, se a economia era extrativa? Mandar colher a laranja no pé, beber a laranjada e dormir.
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Antonio
Carlos Gaio
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