CLARICE LISPECTOR COMENTADA

“Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.” A síntese de Lispector, um grande espírito que cresce a cada dia que passa e representa o não ter medo do que está por vir.
“Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho.” Se nascemos sem entender nada, corremos o risco de nos tornarmos complexos e irremediavelmente perdidos, salvo se descobrirmos o caminho da simplicidade.
“Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas… continuarei a escrever.” Até para ir além em busca de algo deixado para trás por onde passou.
“Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada.” Se vamos esperar por fazer sentido, iremos acabar dormindo no ponto e não enxergar nada, passando em branco na vida. Preferível reinventar a roda.
“Fique de vez em quando só, senão será submergido. Até o amor excessivo pode submergir uma pessoa.” Um bálsamo em sua alma se livrar do cerco de outrem angustiante ou carente.
“Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.” Tem sim, o nome é transcender. Um espírito que fica mais iluminado a cada dia.
“E se me achar esquisita, respeite também. Até eu fui obrigada a me respeitar.” Quando entendeu seus limites, ao sacar que o tempo passou a correr mais rápido.
“Quando se ama não é preciso entender o que se passa lá fora, pois tudo passa a acontecer dentro de nós.” Quando percebe que está em cena, o filme já está sendo rodado, o espetáculo já começou.
“… uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso. ” Apesar de você não vir ao meu encontro, eu vou te esperar o tempo que for preciso, justamente por ser você a quem eu amo; perdoe-me, demorei a descobrir.
“Passei a vida tentando corrigir os erros que cometi na minha ânsia de acertar.” Para entender a mecânica da vida e se humanizar cada vez mais com as falhas.
“Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato… Ou toca, ou não toca.” Vivo farejando quem me toca fundo; é o hedonismo em ação.
“Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma bênção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo. ” Aqui Clarice alcança Sócrates, “só sei que nada sei”. É bom continuar a não entender para tentar se explicar e aprender a não julgar os outros só por pensar que entendeu direito, e não esquerdo.
“Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil.” Amar o que não compreende é muito mais difícil por implicar em aceitar o outro tal como ele é.
“Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar esta pessoa de nossos sonhos e abraçá-la.” Esse é um dos momentos de maior frustração devido à impossibilidade de mexer nos sonhos, o que não combina com o amor que vence barreiras. Ao menos isso te dá a certeza de que “eu te amo!”.
“Não tenho tempo pra mais nada, ser feliz me consome muito.” Quando a felicidade é plena e ocupa o lugar da utopia, não se deve perder tempo com a banalidade do mal.