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É DE PROPÓSITO: 9 – O SABER DE OUTRAS VIDAS

Eu nasci simples, amorosa. Sempre acreditando no melhor até de quem não parecia querer mostrar o seu lado bom. Durante muito tempo fui chamada de otária, uma ingênua boba. Eu fui criada a duvidar do que a razão não explica. Mas também fui educada a questionar tudo e todos, inclusive a mim mesma.

Eu fui levada, sem sentir, sem que meus condutores mesmo percebessem, a não ouvir a voz mais forte, a de dentro. Ela foi progressivamente abafada, até ficar em silêncio, como muitas de mim por aí. Quem nunca? Como minhas antecessoras em suas dores. Meus antepassados, minhas raízes.

Eu fui muito amada. Graças a Deus, ainda sou. Mas até que ponto nos vale o amor, quando somos diferentes da manada, e falo eu apenas por mim, quando me acostumei a me culpar, a me achar errada pelo que sou?

E enquanto escrevo isso, me vem à cabeça aquele bando de gente da internet já criticando nada construtivamente: “Ah, coitadinha! A pobre menina hétero branca rica, que não sabe o que é problema!” Não sou rica, mas não nasci num meio com dificuldades financeiras, nem nunca passei fome, racismo ou homofobia, o que por si só já é um privilégio, mas, voltando. Não é disso que estou falando, sabe? Eu tenho plena consciência dos meus privilégios e até me culpo por isso, mas o meu foco aqui passa justamente por aí: por que vivemos todos tão culpados, competindo por traumas, por quem sofreu mais, por quem é mais bonito, mais magro, mais excluído, mais, mais, cada vez mais? Será que não vemos que somos (eu me incluo, não sou menos nem mais que ninguém) um coletivo doente por inteiro e, separadamente, um por um?

Os espíritas dizem que, nos primeiros anos da infância, os espíritos ainda lembram das vidas passadas. E faz sentido. Eu era tão madura e equilibrada, dentro da minha própria suposta loucura, que desconfio que reencarnamos conscientes de tudo que aprendemos em outras vidas, mas, dependendo do entorno (família e sociedade) e de como reagimos ao que nos acontece, vamos nos infantilizado. Na medida em que vamos entrando nas caixas onde nos empacotam. Viramos produtos do meio.

Esta série de textos é meio que sobre isso. Porque é um meio de eu me transbordar e, do jeito que está dando pra desaguar, não tem plano, nem roteiro. Sigo rimando muitas vezes, improvisando o tempo inteiro, mas sempre conectada com isso aqui, meu meio. O meio de mim, meio de me fazer assim, meio que escolhi pra viver: a escrita. E sobre isso, ainda falta muita coisa
a ser dita.

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Antonio Carlos Gaio
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