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MALMEQUER E BEM-ME-QUER

Malmequer e bem-me-quer designam plantas que pertencem ao mesmo tronco da família das compostas e que, na geléia geral da botânica, significam que de onde você mais espera é dali mesmo que a esperança falece, o peixe morre pela boca e daquele mato não sai coelho. Daí se apelar para o jogo pueril e machadiano do bem-me-quer, malmequer, ou, ela me quer, ou ela não me deseja.
Quando um homem deseja aquela mulher só para si, proclama aos quatro ventos que a quer, quer muito, como nunca desejou alguém assim antes. Confessa ser a mulher da vida dele. Fala sério, compenetrado, como nunca o fora nos seus primórdios, a ponto de querer viver junto, casar ou amar incomensuravelmente entre as quatro paredes. Num relacionamento conseqüente e profundo. Provavelmente estiveram juntos em outra encarnação ou estão a resgatar algum elo perdido de lá. Ele seria capaz de um pacto consigo mesmo, de forma a conquistá-la, abrindo mão de outras mulheres, para que elas acreditem e o levem a sério. Reiterará a promessa na sepultura da mãe, se interditará ao se deixar seduzir por olhos negros, pela boca que sangra e a bunda arrebitada, para todo o sempre. Por entender que o traseiro pode ser maravilhoso e divino, mas igualmente terrível e conservador, agastando-lhe o prazer.
No entanto, todavia, contudo, ela dá corda, deseja apenas manter o desejo dele em banho-maria, porque lhe faz bem a corte, ser bem tratada, amável e cavalheirescamente, produto em falta. O homem, por sua vez, interpreta como luxúria, a finalidade é deixá-lo apaixonado, gamado, de quatro para ela, porque a moça ao mexer com seus brios, o faz sentir-se rejeitado. Nessa fração de segundo, morde a isca, o conquistador se sentiu desafiado, e ela com quantos paus se faz uma canoa.
Aí ela vai fingindo que está caindo na cantada, pois não existe coisa melhor que o assédio educado, do que o embevecimento do varão a querer provar a todo transe que ela é a sua Cinderela. A meta impossível é a de concentrar rasgos, paixonites e desvarios por sobre sua mulher, mesmo quando se sente inferiorizado por ela não confessar que o ama conforme ele a ama, embora explicitado através de indiretas de forma a não se comprometer.
Ambos fecham a raia conspurcando a terminologia do amor, tornando abjeto o nexo causal que os pôs um defronte o outro e cometendo o verdadeiro pecado original, desgostando a Deus que não criou Adão e Eva para testemunhar tamanha lambança.
Entranhado o desafio, desafiando o poder do feminino, auscultando um “eu não gosto de você”, que lhe provoca mau hálito e gosto de derrota, tudo termina quando se cansa, ele vai embora, no entanto, nunca mais irá esquecê-la, e ao trauma. Irá se casar de novo e sua futura mulher não tolerará seu passado, provavelmente o proibirá de mencioná-lo.
Por outro lado, do lado ímpar, que contraria o par, pelo lado gauche, ela se esgueirará e escapará do beco sem saída. Irá esquecer, não dará bola, exceto das saudades da corte. Arrepender-se, apenas quando estiver só.
Sábia a botânica em que navegam livremente androginia e hermafroditismo, mas como não somos vegetais, até prova em contrário ao entrarmos em coma vegetativa, malmequer, bem-me-quer, é o Deus de nossos instintos básicos.

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Antonio Carlos Gaio
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