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O AVARENTO E O DESAPEGO

Era uma vez um avarento que nasceu no seio de uma família italiana no apogeu do fascismo de Mussolini. Carimbado na pré-adolescência com a 2ª Guerra Mundial deixando um rastro de destruição e vendo sua pátria ruir em escombros, prometeu a si mesmo reconstruir-se financeiramente, juntando centavo com centavo, ao evadir-se com sua família de Milão para o Rio de Janeiro.
Aprendeu a ser econômico, ainda mais que o patrimônio familiar oscilava entre verdadeiro e não muito digno de confiança, o que o induziu a se prevenir demasiadamente, tornando-se um avarento à medida que foi comprando imóveis com suas economias em locais rentáveis. Morando com os pais, sem casar-se e ter filhos para fazer mais economia.
Bem que nutria compaixão para ajudar as pessoas a se unirem e trabalharem juntas, desde que em torno de si para criar um mundo mais rico. Nunca optou por jogar a responsabilidade no ombro dos outros, pois foi a maneira que escolheu de viver conscientemente livre.
Porém, fez questão de, funcionando como banco, calcular juros, descontados na hora, de empréstimos para seu irmão caçula, um jovem empreendedor imobiliário de sucesso que faliu por não saber lidar com injunções políticas. Embora conhecedor de que a ficha do caçula sempre foi limpa e de que pedira um empréstimo de pai para filho, que logo iria saldar. O discurso do irmão bem mais velho era de quanto mais nós assumirmos nossas responsabilidades, mais seremos capazes de moldar nossas vidas.
Quando falência ele já havia testemunhado na Itália, política, humanitária e até a que levou à desagregação de famílias. Se tudo que existe e possuímos um dia irá desaparecer. Tudo tende a se desintegrar cumprido seu ciclo na vida e isso inclui nossa presença nesse mundo. Portanto, quanto mais nós nos apegamos a bens materiais e circunstâncias, forçosamente seremos obrigados a sofrer, uma vez que tudo isso, mais cedo ou mais tarde, vai ser tirado de nós.
Tudo na nossa existência está conectado ao funcionamento integrado do Universo. Nada existe de forma independente ou isolada do seu ambiente. Enquanto não soubermos o que isso representa, não seremos capazes de viver em harmonia com nós mesmos e o mundo.
Apavorado em não saber como retardar a morte e evitar as doenças que fatalmente viriam, a dor física e moral já estava lá para ensinar ao avarento algo importante, e se não prestarmos atenção ao que isso significa, nunca seremos capazes de aprender e crescer. A dor vem para nos provar, da pior forma possível, que há algo de errado com nossas vidas e que precisamos mudar nossa maneira de viver para superá-la.
Enfurnado em seus valores egocêntricos aos 85 anos, o avarento sofre um acidente vascular cerebral (AVC) e entra em coma sujeito ao respirador artificial, à alimentação parenteral, sonda e soro na veia. Ele não se desfez do que não era essencial e manteve em seu coração apenas o que não tinha real importância.
Resiste a morrer apegado à vida. Ou melhor, ao dinheiro. Ou porque, simplesmente apegado à vida material, não quer transcender. Não que não possa ocorrer um milagre e ele acordar desse pesadelo. Mas vai ser preciso notar que houve uma diferença entre o antes e o depois. Igualmente, se não for poupado, vai ser preciso notar a diferença entre ingressar no Plano Espiritual e o Plano Físico que deixou para trás.
Como isso é uma tarefa à altura de Deus, em função do tresloucado apego ao dinheiro e de suas circunstâncias materiais, os mentores espirituais são obrigados a mergulhá-lo no estado inconsciente (num sono profundo), que corresponderia a colocá-lo numa câmara hiperbárica (superior à pressão atmosférica) para trabalhá-lo ou mesmo submetê-lo a uma cirurgia espiritual na tentativa de depurar seu espírito de vícios contraídos com o apego e de libertá-lo de condicionamentos que envenenaram sua conduta. Se assim não for completamente entubado, o avarento não será libertado pelo desapego. Nem reconhecerá o Plano Espiritual, quando lá ingressar. Permanecendo embriagado com esse estado de espírito, só Deus sabe até quando, tal como se costuma ver em Centros de Tratamento Intensivo (CTI) inúmeros seres humanos imersos em sono profundo, irmanados ao longo do tratamento.

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Antonio Carlos Gaio
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