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O EQUILIBRISTA DOS PRATINHOS

Homens são seres simples, até primitivos, quando seu comportamento pode ser equiparado ao do equilibrista de pratinhos que se costuma ver em espetáculos chineses circenses. A dinâmica do equilíbrio de pratinhos é mantê-los girando impulsionados por uma vara, vários deles manipulados com as mãos, braços, pés, direito e esquerdo, cabeça, enfim, toda parte possível do corpo de modo a fazê-los girar sem que caiam no chão e se quebrem. Não se pode rodar com muita força para que o prato não se desprenda da atração pela vara, nem esquecê-lo para que não caia.
Os pratinhos que os homens equilibram representam as mulheres. Para o conquistador, a cada mulher que ele vence a resistência corresponde, automaticamente, a um pratinho. Muitos pratinhos equivalem a uma variedade de mulheres, e ele tem que se esmerar para mantê-las todas girando, como bom artista, principalmente para se vangloriar com os amigos, enquanto não for fadado a escolher um pratinho de sua predileção.
Assim, após colher um pratinho nas saídas à noite, basta o sujeito encontrar o ponto de equilíbrio ao girar com força média, com telefonemas, mensagens, cinema, pizzaria e barzinhos – elementar, meu caro Sherlock. Há que ter cuidado apenas para não girar demais o pratinho, na ânsia de evitar que ela grude e o pratinho voar, ou seja, ele escafeder-se e nunca mais ser visto, por uma questão de sobrevivência. Se o sujeito girar de menos, sumindo, por exemplo, por duas semanas consecutivas sem maiores explicações, o pratinho pode se quebrar.
Os dias preferenciais de coleta de pratinhos são quintas, sextas e sábados, quando festas maiores se sucedem, como eventos que atraem multidões e que facilitam a caça aos pratos, que são feitos de diversos materiais: de porcelana (só de encostar mais forte, transforma-se em mil pedacinhos); de vidro (se cair, quebra); de Duralex (resistentes a impactos e pequenas quedas); e de cobre ou outro metal (em infindáveis oportunidades se recupera do tombo e volta a rodar toda vez que o moço liga, consciente de seu papel de ser só um pratinho, num longo processo de destruição do amor-próprio).
Embora se deva ressaltar que o objetivo do pratinho é ser tirado da vara onde gira e converter-se em prato principal – compromisso. Por outro lado, não se pode acusar os homens de má-fé, atuando como mulherengos ou galinhas. Eles estão testando todas as possibilidades, selecionando o que lhes convém para o banquete – a fixação em sua eleita. Nem cabe às mulheres se fazerem de vítimas porque o jogo hoje ficou em aberto para elas também serem equilibristas de pratinhos, a despeito de isso não satisfazer seu ego – seu objetivo não é a disputa em igualdade de condições.
Todavia, se depois de escolher um prato principal, o amor vier a acabar, fatalmente o prato irá ornamentar a parede como memória afetiva do que poderia ter sido mas não foi. E o equilibrista retomar o seu ofício.
A dúvida é se condiz com os tempos de hoje ser prato da porcelana mais fina que existir. Resta saber qual vai ser a hora de os homens pararem de girar tantos pratos e concentrar-se numa única Cinderela. E quanto aos pratinhos, quem será o príncipe encantado e equilibrista por quem vale a pena girar.

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Antonio Carlos Gaio
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