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O ESTIGMA DE NICHOLAS HUGHES

Devemos sanear nossa mente dos pensamentos sombrios que crescem em silêncio, antes que seja tarde. Por ainda não ter encontrado solução para os seus problemas, não se deixe ficar sem opção. Cuide bem de si a fim de evitar chegar ao impasse: ou eu me aprumo ou vou-me embora dessa pra outra! Suas possibilidades de reagir num beco sem saída diminuem consideravelmente.
Como as de Nicholas Hughes. Não conseguiu superar o estigma de a mãe ter se matado 46 anos atrás, marcando com ferro em brasa sua existência, imerso numa depressão que o levou a se isolar no Alaska, como biólogo e professor de universidade, solteiro e sem filhos. A forca foi o destino escolhido em 2009.
Em 1963, com apenas 1 ano, dormia em seu berço, quando sua mãe selou o quarto todo para que ele e sua irmã não fossem afetados pelo gás com que ela, Sylvia Plath, a notável poetisa americana, viria a se suicidar, ao abrir o gás do fogão.
O motivo do crime cometido contra si mesma foi o de enxergar no fundo dos olhos de seu marido, Ted Hughes, pai de Nicholas, que ele não a amava mais conforme a conquistou, com o talento de um dos maiores poetas britânicos de sua geração, fazendo-a comprar a certeza de que ele não era um vendedor de ilusões. Originando, em protesto, um vulcão de desapontamentos, decepções, frustrações, tormentos e a desesperança provocada por um cruel engano de personalidade. Ainda mais quando Ted se tornou amante de Assia Wevill, enfeitiçado pela beleza exótica, de ascendência russa e germânica, e pelo amor incondicional que ela lhe oferecia; mulher rodada no mundo, casada pela terceira vez, seu marido até aceitou o affaire, sua última carta na manga para que ela não o largasse. Contudo, em 1969, Assia também viria a inalar gás de cozinha, num revival macabro da morte de sua rival, só que optando por levar junto consigo a filha do casal, de 4 anos, ao invés de deixá-la para ser criada por Hughes.
O mesmo desenlace nas tragédias que fizeram duas mulheres sucumbir em plena explosão do feminismo. Por causa de um homem? Que estranhos poderes Ted Hughes continha em suas entranhas para provocar dois suicídios em nome do amor? Que amor é esse que Assia não quis lhe deixar nem o gosto do fruto de sua paixão, sacrificando a filha para enterrar bem enterrada a memória de inigualáveis amores que não se sustentam, ficam bambos e se desfiguram?
À fama de Ted Hughes, seguia-o implacavelmente a sombra de “assassino”, gritado nas leituras e palestras do poeta, frequentemente interrompidas por mulheres possessas com o envolvimento de Hughes na publicação póstuma dos poemas mais impressionantes de Sylvia Plath, em que direcionou a excelência de sua arte, sensível e sofrida, para atingir Ted mediante um intenso bombardeio lançado de seus versos – vindo a formar o aclamado livro “Ariel”. As mulheres compraram essa briga como se Ted tivesse abusado da integridade de todas, enraivecidas por saberem que nenhuma está livre de padecer no paraíso com um amor que virou um inferno e sair ilesa. A despeito da forte carga de perseguição que atraiu para sua existência, Ted Hughes lutou por todos os meios para ressaltar e reconhecer a força da construção poética que sua mulher desenvolveu pouco antes de cometer o suicídio. Não apenas in memoriam, mas por amor à arte. De tal forma que converte Assia Wevill à obsessão pela imagem de Sylvia Plath.
Nicholas Hughes não conseguiu reunir ânimo para construir sua própria história. Os últimos diários de sua mãe foram destruídos pelo seu pai para evitar que os filhos lessem revelações perturbadoras. Preferiu morrer soterrado por uma história que transcende o Universo que pensamos poder explicar. Inabilitado para sentir amor pelos seus pais, ou optar por um deles e condenar o outro, ou mesmo negá-los. Resolveu encarnar o mal em seu pai, que morreu em 1998, e cortou seus vínculos com a Terra, ao reproduzir o papel de vítima que sua mãe e a rival incorporaram, suicidando-se.

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Antonio Carlos Gaio
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