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O RONCO

É uma das maiores imperfeições com que Deus nos criou. Não há tatu que agüente nem bem soar o primeiro minuto em que o sujeito apaga e logo começar aquela sinfonia de irritar os ouvidos do mais insensível dos seres. Sob o álibi de que dormir é o desfalecer dos sentidos, o ronco torna o homem num monstro e a mulher numa jararaca, figuras de assombração dos contos de Grimm. O velho se aproxima da morte e a surucucu comprova que deu adeus à beleza, faz tempo. Os jovens começam ressonando – um aviso – para conter a obesidade, o cansaço inútil e o beber desenfreado. Desculpas ridículas para a apnéia.
A verdade é que o ronco separa, e não se está falando de quartos ou dormir na sala. Se torna tão insuportável ao correr dos dias que você tem de se livrar daquele animal que dorme ao seu lado. Tamanho o rugido da besta humana. Um inimigo que não permite a desconcentração e o relaxamento, uma tortura que não combina com amor.
Para não falar de romantismo, a confirmar a máxima de Caetano Veloso que, de perto, ninguém é normal. Não se dão ao respeito nem em poltronas de avião ou de ônibus; por merecerem um cascudo no meio do quengo ao quebrarem uma harmonia em construção – o sono em silêncio.
Que harmonia, qual o quê! São egoístas inveterados já acomodados no seu status quo, envelhecidos em barris de carvalho, a nos servir vinagre com seu hálito putrefato de cabo de guarda-chuva.
Tenham um mínimo de vergonha na cara porque ninguém é obrigado a aturar o ronco, meus senhores e minhas senhoras! Vão limpar essa baba asquerosa, vão se tratar, dêem um jeito no grunhir da sua alma, não nos transportem para seus abismos, o ronco tira qualquer dúvida: você não quer ninguém do seu lado.

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Antonio Carlos Gaio
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