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RESSACA

Procure não ser lógico, abstenha-se de querer bancar o cientista político e adote uma linha de raciocínio a esmo.
O engravatado paulista rotula o carioca de exótico e festivo no ato de votar, do socialismo moreno de Brizola, amparado em Agnaldo Thimóteo e Juruna em pleno Sambódromo, desfilou na passarela de Copacabana a altivez da rainha africana Benedita, e agora ingressa no garotismo, uma tentativa de reedição do brizolismo, chaguismo, indo mais longe, do evaperonismo, como recheio de uma empada com azeitona para o caroço escapulir pela glote no propósito de incomodar.
O carioca, de camisa aberta e medalhão no peito, sempre gozou os adhemaristas, célebre pelo cofre com 2,5 milhões de dólares confiscados de sua residência pela luta armada, que gerou o malufismo, vitorioso nas pesquisas e derrotado nas urnas. O bastão trocou de mãos e foi pro “Meu nome é Enéas”, o recordista nacional de votos no maior colégio eleitoral do país que permitiu, através do quociente eleitoral, arrastar para Brasília deputados de 200 e 300 votos, que não acreditaram nos candidatos a presidente – anular presidente significa tanto faz como tanto fez, um repúdio do tope de quem se julga acima do bem e do mal, de quem se lixa para os destinos do país ou vende apoio.
Rebanho por rebanho, quem mais cresce são os evangélicos, o último censo acusa 15,5% dos brasileiros, relacionado ao inchaço das grandes metrópoles que distanciou as instituições católicas da realidade, refletindo-se na vitória de bispos e pastores bem assentados, notadamente no PL, antigo reduto católico de Álvaro Valle – rei morto, rei posto. Lidam bem com a contradição e a dialética, dizem não misturar política com religião para cabalarem votos e o eleitor encontrar a fé em Deus e em Jesus. Almoçam perdão e jantam tolerância, como farão para dormir com tanta insegurança?
Na contramão do furacão petista que varreu caciques, clãs e oligarquias, a família Collor e de cambulhada a República de Alagoas, a plumagem dos tucanos, a bancada rural e da bola, os boleros de Bernardo Cabral, os diamantes de Abi Ackel, os factóides de César Maia, e incorporou Santa Catarina ao continente, com senadoras e deputadas metendo o pé na jaca e confirmando que o eleitorado desconfia cada vez mais da capacidade do homem em gerir uma sociedade com 25% de chefes de família mulheres, eis que surge Rosinha Garotinho nos fazendo esquecer de Roseana Sarney – um fantasma temido nas eleições presidenciais, menos pelo caixa de campanha e mais pelos nódulos nos seios de quem é calejada em cirurgias que passaram da conta.
A vitória no primeiro turno da ex-vendedora de “Avon chama”, liberta em definitivo a periferia do Rio de Janeiro e o interior do Estado do jugo formador de opinião da Cidade Maravilhosa, a democracia se locupletou com o triunfo em todos os municípios da província, pautado numa vertente do assistencialismo que reconhece o aumento da pobreza e da indigência como um fato consumado e inconteste.
Ao não se poder esperar que abram mais vagas de empregos, tornaram o remediado dependente do Estado e avalista da perpetuidade do mecanismo eleitoral denominado fundamentalismo nacional-evangélico, de tendência missionária em favor de reformas que alcancem a redenção. Votou-se a benesse a crédito do político, que não confunde credo com ideologia, mas espera que ele entenda o Deus que habita no pastor-político a serviço da comunidade. A comunhão de idéias traduziu-se na maioria gritante da população fluminense que substabeleceu uma procuração para criar o Clube da Miséria, com capital inicial avalizado por 65 mil cheques-cidadão. Sacia-se a fome e a sede, só quem não tem, sabe o que significa o buraco no estômago. Quem romperá primeiro o círculo da dependência? O provedor da galinha de ovos de ouro ou o traído pela própria natureza?
O que é considerado retrocesso ou avanço no processo eleitoral? Afundar o Titanic de velhos caciques? Ou renovar os assentos nas casas legislativas? Privilegiar o econômico e privatizar para alcançar o Xanadu do Primeiro Mundo? Ou se portar como líder estadista na mesa de negociações e traçar o social em justas fatias para que o apetite seja saciado?
O que desagrada na democracia é que ela suscita mais perguntas do que respostas, impedindo de comemorar vitórias justas de há muito aguardadas, em vista de ressacas cortarem o barato com dúvidas que açoitam a cada golada. O mercado reflete essa insegurança ao passo que a esperança cresce na mesma proporção. Fórmulas econométricas não captam o âmago da questão, o que vale mais é ser um bom partido para casar com sua filha, revelar quais são suas verdadeiras intenções e manter uma boa aparência para que os domingos transcorram tranqüilos.
Não há por que se preocupar mais, os eleitores assumiram as rédeas da democracia no Brasil, se compenetraram de que a repercussão de seu voto recai sobre suas cabeças quando os traficantes mandam fechar o comércio e parar o tráfego. Não existe nada que dê prazer e não provoque ressaca.

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Antonio Carlos Gaio
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