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SÍNDICO FALIDO

Não é síndico de massa falida. Não é síndico de prédio caindo aos pedaços. Não é o síndico que faliu, insolvente. É o síndico falido no caráter, no exercício do papel de síndico de edifício residencial.
Mas como? Se venceu as eleições, puro nas intenções de reparar os buracos da gestão passada, renovar os métodos cristalizados na ferrugem, ser absolutamente transparente de forma a não pisar em falso e, por último, mas não menos importante, a tarefa pior: colaborar para a convivência em bons termos dos moradores.
Pois antipatia no cruzar de olhares, ao entrar e sair do prédio, vem de graça. No subir e descer de elevador, basta o exalar do banho recém-tomado para irritar a você suado. Na garage, o morador assume a cara e o porte do carro. Na reunião de condomínio, a briga de foice. A festa que avança noite adentro e não deixa você dormir o sono dos anjos. A obra que ofende a Lei do Silêncio e o cachorro que não para de latir. Temos de ninar, todos juntos, o neném que acabou de nascer e que não é sequer nosso parente. Pior é a falta de gosto para música. Tocar buzina de caminhão saudando o gol que o time inimigo sofreu. A vizinha que corta sua respiração, casada com um fino que não satisfaz. O assanhamento na terceira idade. O sexo livre da molecada.
Tudo é motivo para virar desconfiança, inimizade, disputas, a moral em jogo. A frustração de levar uma vida de casado, com filhos por criar, e não conseguir parar de ficar olhando as moças de corpo dourado, num doce balanço, a caminho do mar. A inveja de não poder gozar a vida de bon vivant do vizinho ao lado. É o síndico falido em ação, que se abstraiu de promover a coexistência pacífica entre os vizinhos, sob o peso da reforma da fachada para dar uma aparência de novo ao edifício. Quem dera também pudesse reconstituir sua fachada e recuperar seu vigor perdido, que decai a olhos vistos.
Quanto mais se tenta mudar as aparências, mais tudo continua na mesma, por se ir cada vez menos à essência das coisas. O síndico falido está mais preocupado com seu tempo passando, assistindo ao seu outrora arranha-céu cair de mansinho. Não adiantou ganhar as eleições; seu conceito não subiu. Sob a aparência de bom administrador, o síndico falido afundou na lama de seu caráter.

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Antonio Carlos Gaio
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