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A GALINHA DE OVOS DE OURO

“Tenho 35 anos, nunca fui casada e todo homem que entra em minha vida sai rapidamente. E sempre que alguém se interessa por mim, eu não me ligo na do cara. Não me fixo na pessoa. É uma situação muito desconfortável. Em matéria de instabilidade, teria sido melhor se, em época de chuvas e enchentes, um rio desgovernado me levasse em meio às águas que se acumulam, procurando um leito à altura para escoar” – tal como ela, que procura um espaço na vida para se encaixar e se aninhar nos braços de um homem.
“Todos me cobram por que ainda não casei, chamam-me de mole, falam como se eu tivesse alguma culpa nisso ou como se fosse eu quem determinasse a hora que alguém vai aparecer e ficar de verdade comigo. Quando muitas mulheres nasceram para dar sorte no amor, em família, na carreira profissional” – os homens fogem de mulheres dependentes emocionalmente que careçam de um pronto-socorro logo que a pressão baixe e as faça desmaiar de desgosto; por elas necessitarem dessa certeza, isso os apavora.
“Espero que, pelo menos, eu tenha vindo ao mundo para ser mãe porque não estou disposta a abrir mão de ter filhos por nada deste mundo” – aí mesmo é que ele fugirá como o diabo da cruz, se ela o transformar em reprodutor encarregado de preencher sua vida prenha de perguntas sem respostas.
“Não sei onde está o problema” – imagine se o homem, que já é um perdido no espaço sideral, por definição, suportará essa carga sobre suas costas. Ele pressente, como todo bom predador, quem se aproxima sob o pretexto de estar confusa e não entender desígnios que atribui a Deus, para que ele assine a fatura e assuma o encargo de resolver os problemas por que passa a mulher para se realizar.
Se o homem quase não encontra limitações em matéria de longevidade e capacidade para engravidar as mulheres e formar família, tira maior proveito das fontes da juventude e ainda se vale de um exército de enfermeiras de prontidão para assisti-lo em seu processo de amadurecimento à base de Viagra. Não se preocupa com o novo leito do rio depois da enxurrada nem onde está o problema, se a sorte ainda o bafeja e o privilegia, desafiando a perenidade da lenda da galinha de ovos de ouro.
Por conhecer sobejamente a lenda e saber que não adianta matar a galinha. Por não haver tesouro dentro dela. Ela é igual a qualquer outra galinha, confirma o pragmatismo machista de seguir explorando o ouro, mesmo a conta-gotas, até chegar ao ponto de raspar o tacho e a fonte secar.

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Antonio Carlos Gaio
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