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BERGMAN MORRE E DEIXA COMO LEGADO SUA CABEÇA

Títulos de filmes que marcaram época e se incorporaram ao idioma português. O ovo da serpente, a personificação do nazismo; persona, o Bergman autodidata em psicanálise; gritos e sussurros, o mestre da alma feminina; cenas de um casamento, responsável por incrementar separações não só na Suécia, como no restante do público mais intelectualizado espalhado pelo mundo, que confundia os nórdicos com nível de evolução superior, enquanto a picardia italiana associava a amor livre e turismo sexual em Estocolmo.
A geração nascida no pós-guerra passou a se deter na profundeza da alma, sem Deus por perto. Não queriam herdar o papel legado pelo pai e pela mãe, tamanha a incongruência, inadequação, desconexão, o absurdo da vida a dois, com as convenções sociais perdendo força ao passo que crescia a agonia diante da existência. A chegada da Morte no sétimo selo e se dar conta de que nunca mais verá os seus de novo. Nos morangos silvestres, o velho vê a sua hora passar no rodopiar dos ponteiros do relógio e não pode deter o inexorável fim de seu tempo.
Instigado por um severo regime disciplinar protestante, Ingmar Bergman trabalhou no cinema a cabeça – o subtexto -, em oposição ao pai pastor, à semelhança da criação e formação de Jung, que encurtou a distância entre o consciente e o inconsciente. O que irritou os apologistas do entretenimento na sétima arte e de Hollywood nas paradas, por se sentirem marginalizados ao acharem seus filmes chatíssimos – era constrangedor sair do cinema e admitir que não entendeu nada. Mal sabiam eles que, de uma forma ou de outra, iriam parar no divã, senão no Pinel, pois Bergman, na sua preocupação com a inquietude da experiência do sujeito com o inconsciente, atraiu Freud para a psicanálise bergmaniana. O sujeito ia assistir ao Ingmar, se reconhecia neurótico e pum!, direto pro consultório. Foi assim com Woody Allen, que agradeceu ao maior artista do cinema desde a invenção da câmera cinematográfica – no gênio em que também se tornou.
Quem, no século XX, que, sem ser Freud, teve a capacidade de detonar tantos casamentos e mandar para o analista um séqüito enorme influenciado pelo intelecto privilegiado de Ingmar Bergman?  
Difícil uma extraordinária capacidade intelectual chegar a ser o mais popular e o mais querido, pois se requer um tempo para assimilá-lo, ainda mais por terem escrito e filmado o cerco ao ser humano, castigado pela angústia existencial que o remetia à solidão e à aridez. Pela incomunicabilidade, especialmente entre casais, o tédio e o silêncio do cinema de Michelangelo Antonioni, a traduzir o impasse nas relações humanas.
Nenhuma relação acaba, segundo Antonioni. Morreram vocês, logo no mesmo dia, para provar que não foi um eclipse o legado de suas obras.

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Antonio Carlos Gaio
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