Em Alvarenga, município do Vale do Rio Doce, dois candidatos não mais poderão concorrer às eleições pois foram reprovados no teste da Branca de Neve, cuja finalidade era atestar a alfabetização.
“Branca de Neve era uma princesinha de cabelos bem negros, pele branca como a neve e lábios vermelhos. Ela morava com sua madrasta, uma rainha muito vaidosa e má.” O candidato tinha que copiar o texto e depois responder com quem Branca de Neve morava, qual a cor de seus lábios, quem era a princesinha e quem era vaidosa e má.
A Justiça Eleitoral enquadrou-os no analfabetismo funcional, “se não está em condições de copiar e entender uma literatura infantil clássica, quiçá terá condições de votar leis que tratam do orçamento, parcelamento do solo, impacto ambiental e planos de cargos e salários”. Se não conseguem extrair de um texto sentido lógico ou conclusão válida, o que não dizer no exercício de cargo eletivo?
Branca de Neve nenhuma pode derrubar candidato, basta apresentar declaração de próprio punho de que é alfabetizado. Palavras do advogado. O conteúdo do teste é um escárnio só, ainda mais se considerarmos que Branca de Neve e os sete anões decoram jardins como ícones de famílias respeitáveis que respiram sucesso.
Estão também a desconfiar de quem faz parte da raça negra, para poder fazer jus à cota de ingresso nas universidades. Causa estranheza encontrar filhos brancos de pais negros, ou se apegar a nariz e cabelo para invocar o orgulho da raça.
Se a moda pega, é melhor ir fundo e quebrar o sigilo bancário de candidatos às eleições, submetê-los a detector de mentiras quanto a contas no exterior, devassar até a quinta geração, investigar os amigos do rei, pobres e ricos, sem discriminar. E entre os plebeus, desconfiar de propostas de sociedade, de casamento e de ter um filho. Todo cuidado é pouco com as cobras. Lembrem-se de que tudo começa na alfabetização e acaba no caráter.
O que é a Branca de Neve, um clássico ou uma armadilha?
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