Pode uma mulher ser, ao mesmo tempo, assanhada e tímida? Pergunte ao seu leito. Não, ele não diria, permanecerá fiel aos segredos do amor que não se explica em palavras, vulgarmente denominado de sexo.
Assanhado é uma transição do menino travesso para a filha do síndico que permite liberdades eróticas com os mais chegados das redondezas. Safada para uns, vai longe para outros, num contexto em que timidez é considerada como não dar a cara a tapa para que descubram qual é a sua. Hoje se obriga a dizer a que veio, quais são os seus predicados, o que pretende alcançar, mesmo que tudo seja uma mentira. Se estacionar na timidez, morre pagão, se embarcar no assanhamento, reconhecem a esperteza. Que se fundam os dois gêneros de personalidade como o homem e a mulher na alcova, evitando que o resguardo e a precipitação entrem em choque.
Ela não quer que se meta a mão por dentro da saia com fenda pronunciada, senão vibra um tapa de deixar vermelho qualquer homem metido a forte. Mas quer ser olhada, captada pelo canto dos olhos, que virem a cabeça, quebrem a espinha, a desejem em seus sonhos. Mas não desrespeitem seu recato. Se tiver que se mostrar entre as quatro paredes, será para o seu eleito, desde que ele corresponda extasiado, afinal, o presente caído do céu mistura um prazer sensorial raro e uma elegância de se sentir orgulho. Ainda mais quando começa a se desmanchar no maior strip-tease de que se tem notícia. Porque não desnuda apenas o corpo, revela uma personalidade que até então se desconhecia. E isso exige exclusividade, em bom português, exclui outras que não possuem o mesmo cacife. Ai do eleito se não respeitar as regras do jogo.
A outra vertente insiste nas saias longas e faz pouco caso das que abusam do cruzar de pernas que tornou Sharon Stone célebre em “Instinto Selvagem”. Prefere blusas abotoadas até o pescoço para não dar a dimensão do seu verdadeiro seio – disfarça o bico até onde não mais puder. Encara com certo exotismo o véu das muçulmanas. Opta pelo salto baixo e jóias que não chamam a atenção, como uma correntinha de ouro branco. Tudo para não concorrer com seus maneirismos, falando pelos cotovelos – quiquiqui, cacacá – e olhando ao seu redor para observar o efeito da encenação. Libera tanta emoção e espontaneidade que consegue reverter no homem o dogma de que é inevitável a existência de amantes oxigenando seu sangue. Um ar nervoso que atrai, o suor que não mancha, os lábios molhados que não secam o desejo dele. De forma alguma gosta de ser confundida com zinhas, pois a recompensa virá a tempo e a hora para quem santificar o seu pudor.
Falou em assanhada é pensar em Marylin Monroe, o ícone. “O Pecado Mora ao Lado”, “Nunca Fui Santa”, “Como Agarrar um Milionário” e “Os Homens Preferem as Louras” construíram o mito que morreu nas mãos dos barras-pesadas John e Robert Kennedy. Passaram na cara o seu desconforto de ser objeto de desejo – unanimidade mundial – em detrimento de sua essência como mulher. Não quis se valer da hipocrisia para incorporar uma timidez alternativa que a teria poupado de abutres.
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