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“JOGO DE INTERESSE”

Dirigido por Jonathan Glazer, conquistou o prêmio Grand Prix do Festival de Cannes e cinco indicações ao Oscar pelo melhor filme, direção, roteiro adaptado, filme internacional e de melhor atriz para Sandra Hüller, que também concorre pelo francês “Anatomia de uma Queda”. Não é um filme propriamente dito sobre o Holocausto, sem nenhuma cena de violência explícita ou dentro do campo de concentração, nem mesmo qualquer tipo de suspense. Também não há cenas de ação ou perseguições do tipo vida ou morte. A casa dos sonhos do comandante do campo de concentração e de sua família ficava ao lado de Auschwitz, o mais infame e violento por ter sido o palco central do Holocausto perpetuado pelos nazistas. As paredes e janelas de Auschwitz podiam ser vistas acima dos muros, fazendo companhia aos jardins esverdeados e crianças brincando no pátio da casa, enquanto muita fumaça saía das chaminés, fruto da incineração dos corpos de judeus, ouvindo-se sons de tiros, ordens agressivas e gritos desesperados como trilha sonora das cenas de terror não reproduzidas. O objetivo é nunca deixar que o público se esqueça da realidade que está sendo retratada, daí a aparente falta de movimentação deixar a impressão de um ritmo arrastado em uma obra com tantas implicações, baseada no livro do escritor inglês Martin Amis (1949-2023) e publicada em 2014. Inspirado no casal Rudolf e Hedwig Höss, ele, à frente de Auschwitz por anos, seria promovido a supervisor de outros campos por sua eficiência para matar – especialidade nazista nunca antes espelhada no cinema. Ela, usufruindo de joias, dinheiro, roupas e casaco de pele de judeus a um passo da morte, enquanto cuidava dos cinco filhos com a felicidade de ter conquistado tudo que sempre desejou. Em 1947, Rudolf foi enforcado em Auschwitz, depois de detido disfarçado de jardineiro e com outro nome, mas preservando a aliança de casado e identificação do casal. A esposa escapou, garantindo não saber das atrocidades cometidas ao lado da sua própria casa. Uma mentira típica de quem é insensível ao horror que carrega dentro de si. Apta a apoiar crueldades sem um pingo de remorso. A família comum, enredada no seu cotidiano mundano, foi capaz de conviver impassível diante do mais inominável dos genocídios – como muitas outras famílias alemãs à época. Logo, a monstruosidade não seria uma anomalia fortuita, mas sim uma característica humana – e que pode, a qualquer momento, aflorar de onde ela se esconde (o ovo da serpente). Tal como se constatou no governo Bolsonaro, no qual apregoou o golpismo durante todo o mandato, que redundaria numa ditadura nazista, até por Bolsonaro apoiar as torturas e execuções na ditadura militar, personificadas no Coronel Ustra, a quem idolatrava. Além de se associar ao genocídio causado pela Covid 19 quando incentivou o negacionismo da vacina. O assassino da natureza, o destruidor dos rios amazônicos, armando a população para se matar entre si, e quase fazendo vir à tona a monstruosidade a que assistimos na reunião ministerial de 5 de julho de 2022, três meses antes das eleições: o fim da democracia com o extermínio do centro nervoso dos juízes do Supremo Tribunal Federal – graças ao tenente-coronel Cid mantê-la gravada em seu computador, seja por ato falho, incompetência ou como prova material para se defender através de delação premiada. O que difere as pessoas comuns dos monstros? O que difere os mitomaníacos e eleitores do Bolsonaro dos monstros?

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Antonio Carlos Gaio
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