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REFLEXO

Trago na boca o último trago
Engasgado no pescoço.
Gosto de esgoto, de desgosto
De não largar o osso.
Ouço ainda sua voz dentro de mim.
Sinto você dentro de mim
Tatuado na minha pele.
E a agulha que te desenha me fere.
Sinto minhas mãos coçarem
Por não poder te tocar.
E meus olhos delirarem
Por te ver onde você não está.
Mas o amargo da tua falta
Não me mata, me alimenta,
Não maltrata, sustenta.
Não é uma dor que me adoece,
É uma lua que me anoitece
Uma lâmina que arranha versos
Num coração puro,
Colorindo esse muro branco de vermelho,
Fazendo da minha arte, um espelho.
Não vejo mais meu reflexo.
Estou do lado de fora.
O espelho não me vê.
Ele agora só reflete
Quem me lê.

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Antonio Carlos Gaio
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