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NINGUÉM ESTÁ LIVRE DE UM FIM COMO ESSE

Não há mais dúvidas se Jorge Rafael Videla foi o protagonista da mais sangrenta ditadura da América do Sul do século XX, responsável pelo desaparecimento de 30 mil pessoas. Ia à missa todas as manhãs para na sequência agendar as medidas de repressão do dia. Além de serial killer na função de presidente, Videla foi um segundo Hitler quando ordenou a incineração de livros de autores como Garcia Márquez, Cortázar, Freud, Proust e até de Saint-Exupéry, de “O pequeno príncipe”. Escondeu durante 19 anos a existência de um filho com problemas mentais, já que isso o envergonhava. O garoto foi criado num asilo por duas freiras francesas, extremamente dedicadas, até vir a morrer antes da ditadura se instalar na Argentina. Posteriormente, as freiras Léonie Duquet e Alice Domon, por começarem a ajudar as mães dos desaparecidos políticos na Plaza de Mayo, seriam sequestradas, torturadas com descargas elétricas nos genitais e arremessadas de um avião no Rio da Prata, sem que Videla mexesse um fiapo sequer de seu bigode em favor de suas vidas. Muitos generais morrem em campo de batalha, outros assassinados em revoluções ou golpes de Estado, ou fenecem na placidez do seu leito de morte, ou pronunciam alguma frase retumbante em seu último suspiro, mas Videla encontrou seu fim numa penitenciária, cumprindo prisão perpétua por tortura e extermínio, além de roubar bebês, filhos das desaparecidas. Em uma posição fecal desprovida de qualquer poesia: sobre o vaso sanitário de sua cela. A própria excrecência o todo-poderoso ditador, com as calças do pijama arriadas, distante da pose marcial de militar fascista, encontrado pelos guardas sentado na privada e reclinado para a frente, ao lado de um proverbial rolo de papel higiênico. Quer um fim mais desmoralizante para quem dispôs da Morte, como bem entendesse, eliminando seus semelhantes? A decadência expressa em sua despedida, enchendo seu espírito de humilhação. Ninguém está livre de um final de vida patético como esse, mas é bom não abusar ou não ter a menor noção ao não respeitar os limites a que todos estamos sujeitos, senão atraímos la maledetta fatalità. O monstro do lago Ness, a lendária criatura que nunca ninguém viu, mas sempre pronto a nos abocanhar e nos arrastar para as profundezas do inferno.

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Antonio Carlos Gaio
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