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O DECLÍNIO DO MODELO DE PAI

Na seqüência do processo civilizatório, se antes o filho procurava na figura do pai um exemplo, uma escola na iniciação sexual e um rival com quem pretendia medir força no amor e no trabalho, hoje ele está menos propenso a essa batalha pelo sucesso. Ou de pautar-se por utopias. De procurar um ideal de vida, quando este terremoto não repercute em qual papel se investir no sexo.
Se a própria filha já não encontra campo em como se completar com o pai. O papel de autoridade no assunto, como os pais de outrora, já se esvaziou. Quisera tê-lo como parceiro, amigo e poder vetar suas namoradas.
Se o pai mesmo já se destituiu ou abdicou, de onde buscar moral ou energia para exercer o tradicional papel de homem?
Trocando em miúdos, só os filhos podem falar com propriedade dos pais. Enquanto não exercerem a paternidade. Na visão deles, ganha foro de verdade a reclamação do oco na mente do pai; como recorrer a quem é tão incompleto e transfere sua ansiedade de forma completamente irresponsável? Estão sempre em falta, ah, antigamente, os pais eram mais presentes! Até duvidam de sua existência, se são reais ou não.
A ausência do pai, sempre reclamada – sem ter que entidade respeitar. O filho de mãe solteira. Sem sequer saber quem foi seu pai. Por não passar de uma sombra, um fantasma ou mesmo alegoria. Quiçá a fantasia do menino, que deseja realizar a mãe para ganhar o pai que o assumirá como filho. Afinal de contas, todos os caminhos levam a Roma para o pequerrucho, quando adquirir cavanhaque de bode, começar a falar grosso e pretender ser feliz.
Jogados fora os modelos ou fôrmas, o pai sem referências é um barco sem remos que só não naufraga porque o mar não está pra peixe. Poluído pelo meio ambiente, a água também se envenena, embora, contraditoriamente, comamos peixe cru cada vez mais. Uma tradição japonesa que se entranhou nos nossos hábitos, em paralelo com o papel singular de gueixas e samurais no império dos sentidos resistir entranhado no estereótipo do relacionamento: a mulher, escrava do amor, e o homem, o senhor no explorar o amor, seja o de constituir família adquirindo estabilidade, ou tirando proveito do meretrício.
Um arquétipo difícil de ser implodido enquanto a sociedade não permitir vir à tona a pior verdade, que é sempre melhor do que a hipocrisia. A hipocrisia do casal se manter junto a todo o custo, sem que se discuta a relação, nem se toque em pontos delicados, senão cada um irá querer provar ao outro quem tem mais razão, quando não trocarão tabefes, excluindo a possibilidade de ambos se afastarem e ruminarem um relacionamento que tropeça nas próprias pernas, até cuspirem o gosto amargo que envenena os corações.
Acuado, o pai só tem um caminho para se redimir. Ser uma mãe para os filhos.

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Antonio Carlos Gaio
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