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O DESTINO DOS SUICIDAS

A rigor, o suicida é obrigado a retomar ao corpo carnal, nascendo de novo a fim de completar o tempo que lhe faltava para o compromisso da existência que destruiu. De tão grave que foi o choque vibrado em sua organização astral pela terrível resolução de matar a si próprio. O retorno é imperioso a fim de lograr compreensão que lhe permita evoluir, única terapêutica razoável para reconduzi-lo ao estado de alívio quando corrigidos os distúrbios vibratórios. Mas levará para o futuro corpo uma configuração maculada com o que presentemente se arrasta, o que significa dizer que renascerá preso a males tão atrozes quantos aqueles que o deixaram num beco sem saída, irremediáveis no plano objetivo, indefiníveis fora das leis psíquicas, ainda que herde dos genitores uma composição animal vigorosa, como a de qualquer expressão de paz e alegria.
– Quer dizer que a reencarnação que aguarda os suicidas é punitiva?
– Tem que ser encarada apenas como medicamentosa, um gênero de tratamento que a urgência e a gravidade do mal se impõem aos enfermos. Nunca um castigo ou uma sentença condenatória!
Reencarnarão dentro em breve, permanecendo apenas o tempo necessário no Plano Espiritual para se restabelecerem das crises mais violentas, pois não há outro remédio capaz de lhes minorar a profundidade dos males que carregam.
– Não poder-se-ia minorar esse estado de conturbação aflitiva permanecendo em tratamento espiritual para não se expor a situações tão dramáticas e dolorosas no plano da reencarnação?
– Não, tal processo seria demasiadamente longo e penoso, pois o suicida ainda não tem o canal aberto para a vida espiritual enquanto se encontrar neste estado tenebroso, inepto mesmo para adquirir percepções que lhe permitam transcender. Esse processo não se desmancha num passe de mágica. Cumpre-lhe reformular-se mediante o contato com forças vitais que o suicídio dispersou desgraçadamente durante a transição do mundo físico para o espiritual; a voz dissonante do suicídio desconcerta a harmonia entre as poderosas afinidades químicas, magnéticas e psíquicas que estruturam o ser humano. A não reação implica numa inqualificável intoxicação na mente, somente realizável por quem se dissociou das leis morais que regulam a Vida.
O martírio imposto pelo desânimo ou pela revolta sobrepuja o arrependimento pelo mau ato praticado. Por concluírem que o suicídio de nada lhes adiantara senão prolongar os sofrimentos antes julgados insuportáveis, além da desalentadora decepção de se reconhecerem com vida.
Esse estado de coisas desaparecerá no momento em que se corrigirem as causas que lhe forneceram origem. Para tanto, há que prevalecer a desconfortante necessidade de reeditar a própria existência corpórea fora do círculo familiar. Embora seja doloroso reiniciar entre Espíritos estranhos o aprendizado carnal a que se furtou, muito pior seria se o fizesse entre Espíritos hostis. Mas não deixa de ser justo e sábio, afinal de contas, o suicida desrespeitou sua própria família ao lhe infligir o amargo gosto de seu gesto, ultrajando, com o menosprezo de que deu prova, o santuário do lar que o amava.
Contudo, jamais o retorno ao campo físico-material se efetivará a contragosto do espírito suicida, podendo dilatar seu tempo de permanência no Plano Espiritual. Nem mesmo será constrangido a se decidir, porquanto não se impõe o destino a quem quer que seja, e sim facultar a todos possibilidades de voluntariamente exercer sua vontade. O máximo que se faz é aconselhar, procurando convencer quanto ao renascimento por meio do raciocínio e do exame dos fatos. Muito embora o suicida se veja em tão precárias condições morais e psíquicas, com o corpo ainda destroçado ou ferido pelo suicídio e o astral sorvido pelas trevas de uma noite sem fim em que o sol não logra renascer, que bem poucas vezes é recomendada uma explicação oral e metódica estimulando a reencarnação. Ele próprio a deseja ansiosamente, apressa-se em obtê-la, quando não implora a seus mentores, não raro em ocasião inoportuna, significativo imperioso para contrariá-lo, obrigando-o a uma espera que permitirá maiores probabilidades de êxito.
Nenhuma tentativa para o reerguimento moral será eficiente se continuarmos presos à ignorância de nós mesmos! É indispensável, primeiramente, averiguarmos quem somos, de onde viemos e para onde iremos, a fim de que nos convençamos do valor da nossa própria personalidade e à sua elevação moral nos dediquemos, devotando a nós mesmos toda a consideração e o máximo apreço, sem nos deixarmos abater por golpes de baixa estima.
Caso contrário, prosseguiremos caminhando às cegas pelas etapas das migrações na Terra e estágios no astral, movimentando em círculo vicioso sem conhecimentos nem virtudes, e muito menos atinando para o caminho correto. À mercê de impulsos das mais danosas paixões ou embrutecidos pelas tendências mais obscuras dos instintos, ignorando nossa pura essência que nos cabe cultivar sob as bênçãos do progresso até que floresça e frutifique em direção ao que fomos destinados.
– Por que, ó suicida, procurou abandonar seu destino? Confiando-o à ilusão de um suicídio? Se todos portamos em nosso âmago centelhas da Criação Divina refletidas na excelsa beleza da existência humana, como julgou poder aniquilar os elementos da Vida existentes em ti, vida essa eterna, atentando contra o seu próprio Criador?
– Eu fui arrastado para o desânimo… mas foi apenas um pesadelo… uma alucinação… pois eu estou vivo! Na verdade, não pude me matar, embora o desejasse… já que estou vivo! Vivo! Louvado seja Deus! Mas estou com medo. Será que vou ser defrontado com um tribunal?
– Existe, sim, um tribunal e todos terão que estar diante do tribunal da consciência, que inicia o despertar da longa letargia que de há muito tempo o mantém chumbado às mais deploráveis inconsequências. Para ser examinado, orientado e despojado do orgulho que o retém vendado, impedindo que reconheça a si próprio e a soberania do Mundo Espiritual que rege os destinos da Humanidade.
Somente desmaterializado, o suicida pode constatar que apenas destruiu o corpo material, próprio da condição do Espírito reencarnado na Terra, que ele tanto teimou em não reconhecer como absoluto padrão de vida. E nem desapareceu ou provocou um apagão em definitivo em sua essência energética como pretendia, bem como não conseguiu se liberar dos dissabores que o desesperavam.
Vivereis para sempre! Vida que é imortal, que jamais, jamais se extinguirá dentro do seu ser, nunca deixando de projetar sobre a sua consciência o impulso irresistível de ir sempre em frente, para o além de Lá, vida após vida. A prova irrefutável dessa Lei Magna que paira sobre nossa coexistência é a beleza atingida ao esculpir as formas da raça humana, ao nível da excelência e da perfeição divina, que aos estatuários da Grécia antiga inspiraram as obras-primas, cuja cultura e civilização até hoje é referência para o saber e a ciência, a ponto de o grego ter sido escolhido como idioma padrão para verter o Velho e o Novo Testamento, o Torá e o Alcorão – quando representantes dessas religiões pensaram em expandir sua fé além de seus domínios.
Todos os dramas que a vida terrena apresenta são contratempos que acabam sendo assimilados com o passar do tempo, mais cedo ou mais tarde, por mais que não se acredite, ou se demonstre má vontade para aceitar certos fatos, não havendo escravidão, holocausto ou genocídio, as tragédias maiores, cuja página não seja virada, por mais que as sequelas se prolonguem demasiadamente a exigir que isso nunca mais se repita. Mas não se pode traçar um paralelo com os tortuosos e angustiantes sofrimentos originários do suicídio, cuja natureza e intensidade nenhum ser humano, mesmo um Espírito desencarnado, é competente para avaliar, uma vez que não tenha experimentado.
Martirizado pelo padecimento físico e espiritual, retrocede pelas vias do passado, revendo sua história vivida na Terra para estruturar sua biografia e estudar a causa que o impeliu ao fracasso. Ressurge de suas recordações, como que filmadas, desfilando à frente de seus olhos o que praticou, desde o berço até o túmulo por ele mesmo cavado. Contempla, entre perplexo e aterrado, os estertores da agonia a que se ofereceu e os destroços a que seu gesto brutal deformara sua configuração humana ainda cheia de vigor para o andamento da existência. Até que desperte do seu hediondo pesadelo desfeito em lágrimas, ao compreender e aceitar a realidade que sentia repulsa em acatar quando encarnado, e que continuaria vivendo, vivendo para todo o sempre, apesar do suicídio. E que de nada lhe adiantara a tentativa de burlar as leis da Vida senão para lhe sobrecarregar a existência, assim como a consciência, com responsabilidades tão graves quanto pesadas.
– Coragem, peregrino da revolta e do desespero! Volta ao ponto de partida e reconstrói seu destino, sofrendo e chorando resignado porque suas lágrimas serão o manancial bendito para saciar sua consciência sequiosa de paz. Mas tenha paciência e sê humilde, lembrando de que tudo isso é passageiro, tende a se modificar com o seu reajustamento às leis da Vida as quais não se adaptou e não aceitou, e que não será atirando-se à aventura sinistra do suicídio que a criatura humana encontrará um refúgio seguro para se defender, simplesmente porque a alma não morre junto com o corpo humano.

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Antonio Carlos Gaio
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