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O MARTÍRIO COMO CARRASCO DA PURA ALEGRIA

Desde 2006, a sempre alegre sambista e cantora Beth Carvalho, hoje em 2018, com 72 anos, padece de fortes dores que se irradiam a partir de uma inflamação na base da coluna – região do sacro -, que a obrigam a passar a maior parte do tempo deitada na cama. Chegou a se mudar algumas vezes com mala e cavaquinho para o Pró-Cardíaco, cuja maior temporada durou 18 anos na mais longa das crises, além de um mês em coma.
Quando cruciais dores se avizinham, é de bom-tom que ela se dirija a seu hospital porque só antibiótico na veia resolve. Dos muitos remédios que toma para aliviar a dor, nem mesmo o que custa 5 mil dólares por mês o efeito é tão eficaz quanto o causado pelo amor à vida, à música, ao dedilhar um violão, cantando e compondo, ainda que em ambiente que exija silêncio.
Já comemorou um aniversário no hospital quando promoveu uma feijoada com os convidados levando cerveja. Sempre gozou da fama de beber, também pudera, andando com sambistas pra cima e pra baixo. Mas foi a nicotina, desde os 13 anos, que provocou um edema nas cordas vocais e a forçou a abandonar o vício de fumar há mais de 30 anos. Senão, inabilitada para cantar, a sentença de morte.
Vive mais tempo com a dor do que sem. Chega a ter um médico especialista em dor. Precisa de três enfermeiras e de home care, um pequeno hospital em casa. Embora confesse que “tem horas que dá um desespero e não aguenta mais!”.
No entanto, não se cansou de sua vida intensa, seja musical, afetiva, familiar e política, em especial, a relação com compositores. Não parou de sonhar com projetos como o Instituto do Samba Beth Carvalho. Adora cantar, fazer shows, tanto que pensa em organizar um especial deitada numa chaise longue, pois em pé não é mais possível. Sentada, desconhece até onde pode ir. Seria a única no mundo a se apresentar no palco numa cama – a Bethmóvel.
A despeito de sua alma arrebatada pela inspiração, entusiasmo e paixão, não são poucas vezes que Beth Carvalho ouve rumores de que morreu devido ao seu grave estado de saúde ao longo de 12 anos. Como conviver com o anúncio de sua própria morte se repetir indefinidamente, sem que Beth possa sequer se livrar da constante submissão ao leito? A evocação de “Vou festejar” cedeu lugar ao martírio em guerra sem trégua com os seus mais vibrantes sucessos, ainda na ordem do dia de Beth Carvalho.
Deus misericordioso, qual é o seu carma? Quem sou eu para ir em seu socorro e bradar que ela não merece? Se eu pudesse, a seguraria no colo e a ninava, cantarolando “ô, coisinha tão bonitinha do pai”. Para facilitar seu trânsito na Terra e amenizar seu sofrimento.

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Antonio Carlos Gaio
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