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O PASSARALHO

Passaralho é o caralho com asas de Pégaso, representando o dourado sonho de o homem poder voar como um pássaro, personificado no falo. Fugindo das labaredas do amor que o consomem, em direção a outras plagas onde possa amar com mais liberdade, sem ficar sujeito a pressões de forças ocultas com que as mulheres surpreendem e encolhem os homens. Migram do norte para o sul, fugindo do inverno para o verão, alimentando-se do que puder. Quanto mais no ar, menor o risco de ser aprisionado em terra. De ser alcançado e abocanhado por uma cobra. Atingido por uma flecha de Cupido.
Procura-se tanto o amor, em sua diversidade, que o ideal passa a ser o sem conflitos. Na contrapartida de sem afetos profundos. Sem compromisso. Sem perfeição por conquistar. Com sexo e envolvimento, mas sem amar ninguém. Facilitado enormemente pela admissão do donjuanismo por parte das mulheres estarem inseridas na competição e não mais demandarem as virtudes castas, ao terem se descoberto num mar de hipocrisia que as manietava, afogando-as.
Os homens não precisam de ninguém, a não ser deles mesmos. O que interessa é alcançar um bom funcionamento, sem corrosão e desgaste do material, para a máquina render com bom desempenho. Uma eterna juventude que compense a perda da agilidade e da ereção vítrea, viciado na utopia de suplantar a velhice e a morte. Garantido pela certeza de que nada se resolverá inteiramente nessa existência. Materialista ao extremo, nada se fechará numa plenitude – é muito nada para ambicionar tudo.
O ideal é flanar com um grande pênis voador, que nem o Super-Homem, pousando e levantando voo de onde dele precisarem. Sem maiores culpas, angústias e códigos de honra. Apenas o charme no papel de uma sabedoria elegante, no savoir-faire expresso no comportamento maleável e sagaz e no bon-vivant, que goza dos prazeres da vida como ninguém.
O limite para tamanha alma indômita são as fraquezas da paixão. Quer distância do que não pode prever e evitar. Procura apenas se encaixar, entrar sem dificuldade, embutir-se sem se embrenhar, assentar-se e habituar-se, até matar o amor, numa linha de raciocínio simplista de que as peças deixaram de se encaixar sob a ação do tempo.
O ideal é manter-se casado consigo mesmo. Para não se ligar na religião do amor. Comprometido com uma esperança que não amadurece.
O passaralho não se fixa em nada.

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Antonio Carlos Gaio
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