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O QUARTO DA FILHA

No filme do italiano Nanni Moretti, o quarto do filho ficou vazio repentinamente com o seu desaparecimento, alucinando o pai, seu grande amigo e companheiro, levando-o a abandonar o ofício que se dedicou a vida inteira: a psicanálise.
Fruto da perseguição política à governadora do Maranhão com a utilização do aparato do Estado em favor de seu delfim, o quarto da filha também ficou vazio, naufragou a candidatura Roseana, assim falou Zaratustra.
Em nome do pai, percebe-se que Sarney está inconfortável na oposição, iniciou-se no suicídio de Vargas ao som festivo da banda da UDN e logo se converteu ao golpe de 64 como político confiável dos militares, ascendendo do baixo clero ao cardinalato tantos foram os serviços prestados à causa, em meio a arapongas nas escutas telefônicas espionando vidas privadas perseguindo a torto e a direito até o ato final, a tortura. Fujimori nunca o indignou, mas agora que foi para o centro…
Para quê lembrar dessa joça toda – isso era no tempo do onça, dos comunas -, se ele homenageou Ferreira Gullar com uma avenida de São Luiz a ponto de deixar o poeta sem entender de política? Se ele soube se desvencilhar dos fardados e cair no colo de Tancredo, e da diverticulite alcançou o fardão montado na garupa do Brasil.
Se importar com o risco de as eleições serem fraudadas e bater nas portas da ONU e OEA a fim de assegurar a vigilância internacional da sucessão presidencial atenta contra nossa memória, já que, para manter a elite militar que fez crescer o bolo com fermento em 22 anos, dependeu muito de seu jamegão em leis apócrifas que impuseram a eleição indireta, o voto vinculado e outras mumunhas que não podem ser atribuídas à inteligência e traquejo dos militares, por mais que se queira elogiar. Ou será que foi ACM, escaldado com a facilidade em quebrar o sigilo do painel eletrônico do Senado, que soprou no seu ouvido?
Contudo, Sarney tem razão, imbuído de seu vasto conhecimento de imortal e ex-presidente. Que idiota acreditaria que uma ação dessa magnitude seria armada sem que a máquina estatal de nada soubesse ou dela participasse? Quem neste país não conhece uma ação política suja com propósito determinado? Quem?
No entanto, reclamar de dossiês é chover no molhado, faz parte da democracia e da livre expressão de idéias, o ACM faz um rapidinho apenas com um xerox de manchete de jornal, o Serra despacha da Saúde, o DOPS era mais organizado no sistema de fichinhas.
Caiu no lugar comum que SUDAM e SUDENE eram valhacoutos de traidores à causa do Norte e Nordeste desviando recursos de gente sofrida para paraísos fiscais. Embora criadas na melhor das intenções na década de 60, já foram extintas tarde, sob protestos dos ladrões. Financiamento vindo de lá, portanto, era rabo, ainda mais para quem tem telhado de vidro. Escudar a defesa de sua filha centrando a responsabilidade na gerência financeira-técnica do organismo que libera o projeto, omitindo-se quanto ao dinheiro que migra deixando o alpiste para cercar o terreno e outdoor do empreendimento, é desconhecer uma questão que o homossexual finalmente já dirimiu.
Não importa quem é ativo ou passivo no relacionamento entre pessoas jurídicas, ambos são viados, ambos querem dar e receber, um não vive sem o outro, estão comprometidos até a raiz do cabelo. A tese de cruzar o cabo da Boa Esperança na ativa em sendo macho não convence mais ninguém.
O Brasil deixou de ser uma república das bananas e uma oligarquia de coronéis, o Judiciário funciona normalmente. A imprensa é livre, Sarney avalizou ao pular essa página do discurso. Não quis embarcar na canoa do bochicho do acesso privilegiado das Organizações Globo à ação do Ministério Público e Polícia Federal no Maranhão, cuja marca registrada é a foto do dinheiro apreendido na Lunus. Na barganha, a divulgação do candidato oficial e a injeção de recursos na Globo Cabo pelo BNDES, a título de reoxigenar financeiramente o mercado brasileiro de TV por assinatura, que não se desenvolveu de acordo com o esperado.
Se Sarney realmente abraçasse a causa da oposição, abriria a boca e diria com todas as letras: empréstimo com nosso dinheiro a negócio da China, uma benesse do gênero operação hospital.
Foi um discurso de adeus aos velhos tempos, a dinastia Sarney começou a descer as escadas.

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Antonio Carlos Gaio
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