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OS VENCEDORES SEMPRE QUEREM HUMILHAR

Os últimos quinze anos foram consumidos numa esmagadora profissionalização do futebol, que liquidou com os derradeiros resquícios de amadorismo e apenas nos reservaram cotas magras de arte no fino trato com a bola. O nível de competitividade se acirrou e nos roubou o lúdico e a graça em vencer jogando bonito.
Esse espírito de guerra alcançou o torcedor que, na globalização, com os inúmeros aparatos da tecnologia, fere com e-mail, torpedeia com celular, invade o domicílio através do telefone e esfrega na sua cara a derrota de seu time na decisão do campeonato. No passado, sempre houve gozação e ir às vias de fato. Mas não ao feitio massificado e massacrante de hoje, aliado a um poder de comunicação que não dá trégua e angustia.
Forçosa é a conclusão: trata-se de uma proposital incitação à hostilidade que ultrapassa os limites da brincadeira. Ah, sempre foi assim! Mas a agressividade aumentou e, se houver uma chance para detonar o contendor, o vencedor o fará em pó, sem contemplação! Estimulado pela conquista da hegemonia, palavra mágica do nazismo e do fascismo que o empurra a esmagar a torcida adversária, louvando-se no grito de guerra “Somos os maiores”. Simplesmente passa por cima de quem não vestir sua camisa lavada em sangue do fanatismo, que lhe é natural.
Há os que maltratam e-mails e se revelam analfabetos, acabando por fazer bom uso de seu mau-caráter. Há os que são paus-mandados de suas mulheres e querem crescer pisando no seu pescoço. Há os que telefonam ao som do hino de seu clube vencedor, logo em seguida ao apito final, com uma perversidade que é a tônica de sua vida infrutífera e fracassada, no calor do azar de quem foi derrotado. É o escárnio em progresso; presta-se bem a desmoralizar e a arrasá-lo nos dias seguintes de cabeça inchada. O ideal seria transformá-lo em barata e pisar, remetendo-o ao inferno.
Cambada de delinquentes que gosta de tirar um sarro e roubar-lhe tranquilidade. Alegam que costuma faltar esportividade nesses trágicos momentos e compreendem ser difícil aceitar a derrota, em tom de ironia. Num mundo que perdeu a elegância, deixou cair no esquecimento o fair-play, não se interessou em manter o nível e viu sumir no horizonte um padrão mínimo de respeito é bom e eu gosto. Sem contar os pais ensandecidos que se associaram aos filhos na molecagem, com danos irreparáveis. 
Pois quem telefona e envia e-mail não está ali de inocente ou ingênuo. Quer gozar na cara do otário perdedor e o falsinho merece troco. Ou melhor, toco. Na canela, ou pancadão nos países baixos, ou mesmo um espirro com gripe suína. No semblante safado e risonho do vitorioso, que só não pode perder a calma, senão acusará o golpe e transparecerá uma sensação de inferioridade.
É por aí que o derrotado irá explorar. Sem lançar mão de palavrões, por absoluta inutilidade. Já foram incorporados ao linguajar do dia a dia. Sem hipocrisias.
O derrotado irá falar mal, judiar e destruir as origens do vitorioso. Com muito preconceito. Tomando como base a explosão da miscigenação que o Brasil Colônia fez ecoar nos quatro cantos do país em formação, encontra-se diversos furos, escândalos nas biografias, traições, amantes, bastardos, incestos, a mulher como escrava e esposa, o homossexualismo ocultado, filhos que não são seus, doenças misteriosas. E a descontinuidade da célula familiar com sua fragmentação inevitável, por motivos de força maior que todos escondem.
O vitorioso não aguenta, replica que é desleal apelar para o preconceito e parte para a porrada. Perdendo não a guerra, mas a batalha. Porém, com danos irreparáveis.

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Antonio Carlos Gaio
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