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PALMADAS COM 50 ANOS DE ATRASO

Foi com essa manchete que a imprensa francesa saudou a mulher que deu à luz ao mais polêmico autor francês da realidade, quando decidiu lançar uma autobiografia e acertar as contas com o escrotinho – assim o homenageia. Só quando ele pedir perdão em praça pública e admitir que é um mentiroso e impostor, é que voltará a lhe dirigir a palavra.
No seu livro “Partículas Elementares”, Michel Houellebecq acerta as contas com sua mãe, retratando-a como uma hippie inconseqüente, irresponsável e desnaturada, em suas andanças por colônias de nudistas em meio a sexo grupal, numa confusão mental que extravasava comunismo e o desejo de mudar o mundo. Lucie Ceccaldi nunca se arrependeu de ter largado o filho; sempre soube que lhe faltava vocação e fibra maternal.
O escritor sofreu desde cedo com a indiferença da sua mãe, relegado aos cuidados da avó, acumulando uma mágoa que extravasou para sua obra. Os dois não se falam há 17 anos e Houellebecq chegou a declarar que ela morreu para ele, embora madame Ceccaldi esteja mais viva do que nunca nos seus 93 anos, morando atualmente na ilha Réunion, perto de Madagascar – sozinha, numa cabana, sem eletricidade, nas montanhas.
Michel Houellebecq é um destruidor de ilusões, centrado no comportamento permissivo da sexualidade, que irá decretar o fim da reprodução humana, pois sexo e seus primitivos impulsos, instintivamente ligados a perpetuação da espécie, são fonte eterna de prazeres, angústias, conflitos, sofrimentos e frustrações. Essa mudança desmancha-prazeres na viga-mestre da sociedade conceberá uma mutação genética, cujo apocalipse revelará uma nova leitura das relações humanas, por esgotamento das anteriores, introspectivas e depressivas. O notório reflexo de uma solidão devastadora trazida por tempos tão tecnologicamente avançados, embora ainda sejamos reféns da ilusão amorosa.
Mesmo depois da Revolução Sexual dos anos sessenta, Lucie Ceccaldi se considera uma pessoa ingênua, que não consegue entender o que está acontecendo à sua volta. Por isso, intitulou sua autobiografia com “A Inocente”; nem, de leve, uma alusão a ser inocentada de pecado algum.
Tão distantes um do outro. Tamanha a explosão de ressentimentos que os obriga a se refugiarem na solidão. É de estarrecer a semelhança do casal mãe e filho. Até no linguajar desbocado do filho em sintonia com a mãe ameaçar quebrar os seus dentes a bengaladas, se não remover os sinais da sagrada mãe de “Partículas Elementares”.

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Antonio Carlos Gaio
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