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UMA BOA IDÉIA

No espoucar da Revolução Comunista em que se preconizava desde a erradicação da pobreza e da religião, passando pela igualdade econômica entre homem e mulher, até a foice e o martelo forjarem uma sociedade a ferro e fogo, Leandro Konder enriquece nosso pensamento lembrando que Georg Lukács afirmou corajosamente que política é um meio, a cultura é que é o fim. Pura alienação de caráter intelectualóide?
Décadas voaram e as mudanças espetaculares não atingiram o âmago da questão como o soco na boca do estômago, obrigando ao século XXI a repensar a cultura na sua gestação, por onde semear os valores mais duradouros e por onde enraizar as convicções em um campo de batalha atípico, pois nele se confundem, entrelaçam e, não raro, se fundem, como sombras na noite, naturezas aparentemente incompatíveis. Como a querer realçar disputas políticas, refregas sociais e novas expressões de amor, pautado pela angústia do artista em fazer pousar a idéia, encontrar um estilo para colher um fruto que suavize sua inquietação, na doce ilusão de neutralizar as manhas da ideologia que inevitavelmente o envolve. Obrigando-o a tomar partido, assumir uma posição diante do panorama oferecido pelas corporações existentes, em contraponto com a inércia que nos mina dia-a-dia, empurrando-nos para o desforço contra nossa própria essência imersa em dúvidas – limitações pessoais causam azia e má digestão.
Por mais que se reinvente o mundo ou candidato a presidente ou se crie factóides para combater a desigualdade social, não se consegue camuflar a importância de se evoluir entre pensamentos divergentes, compelidos a colidir uns com os outros na defesa de boas idéias e crenças que valham a pena viver. Procuram ajustar-nos ao padrão globalizante de manipular informações e retocar estatísticas, impedindo o avanço de brigadas ligeiras em futucar os controladores da divulgação concentrados nas prioridades do que consumir em cultura, provocando insônia em quem define os critérios de seleção – um dia ele poderá ser expurgado. Não é por outro motivo que se vende a falácia de que cultura não dá lucro, para, como apêndice de corporações, continuar a nos governar explorando e escravizando nossas mentes pelo instrumento tão antigo quanto a prostituição: a tirania que sacrifica uma boa idéia.
Dando margem a que artistas e cidadãos, na labuta diária a que estão sujeitos, se cansem das lutas insensatas que dilaceram este pobre mundo. Em cada discussão, cada polêmica, cada debate, estamos na alça de mira da bala perdida, somos julgados, desdenhados, condenados. No aguardo do veredicto, esperamos ingenuamente por alguém capaz de inverter a ordem natural das coisas para nos tirar desse mau momento. Como pobre desconfia de esmola, ele até aparece, mas vira a casaca ou finge que não vê.
Quem não adora se colocar no lugar de mestre, conselheiro, juiz, mediador, irmão mais velho, confessor, crítico especializado, mentor espiritual? De que adianta se não se tocam se realmente sentimos necessidade deles, se todos querem ser a salvação da lavoura, um porto de apoio, pais e mães que não conseguiram ser, só almejam ocupar a tribuna e como Policarpo Quaresma acabar com as saúvas. Estão mais interessados na mise-en-scène que lhes confere um ar de respeitabilidade e prestígio do que em nos defender.
Que tal adotar uma atitude exclusiva e requintada com relação à arte e à vida, fria e distante em que sua estética predomine procurando captar o Belo, na diversidade de emoções e sentimentos que ele suscita no homem, antes que o pessimismo o consuma? Por que não, se não tá devendo pra justiça, se você se basta com o pouco que tem, se jamais tocou em um fio de cabelo ou difamou quem quer que seja?
Mas você não está livre de escroques que o rodeiam, de ser obrigado a propor ações em juízo, e de correr o risco de perder se alguém entrar com algum processo contra ti. Quando tu andas, mais tu te afastas.
Quem não tem mais sonhos nem projetos e se desgoverna sem objetivos, perde a noção do que é verdadeiro e se afoga num mar de equívocos, tropeça na própria língua e acusa os que pensam e criticam de serem os donos da verdade, carcomido pela inveja. É quanto custa uma boa idéia.
Sai mais barato que o revolucionário alisamento capilar que lhe dá a aparência de japonesa, ao longo de seis meses que dispensam a escova, aposentam a chapinha e o secador. Por 400 dólares, cacheado, encaracolado, crespo e eriçado se tornam o fino que satisfaz, o charme.

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Antonio Carlos Gaio
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