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TERRA PROMETIDA

O povo de Israel fugiu à perseguição do faraó Ramsés II, atravessou o Mar Vermelho e montou na Palestina o berço da religião judaica. A Palestina dos filisteus foi dominada pelo pastor David que virou rei com uma funda ao derrubar Golias, fazendo prevalecer o quanto mais alto, maior o tombo. Apenas porque não queriam entender que ali era a Terra da Promissão, destinada ao povo eleito, o ouro negro viria dourar o vermelho de dívidas e trazer o verde para o deserto. Maomé não deixou essa conta ficar barata para judeus e cristãos, converteu os palestinos e se a terra é santa, a eles pertence, por usucapião. Os cruzados invadiram o pedaço, mas o sultão Saladino levou a melhor, raios, e Jerusalém? De quem é Jerusalém? Dos turcos, pros idos de Colombo, quando a Terra ainda não era redonda, o que facilitou às comunidades no convívio sem traumas. Perseguição se havia era aos judeus na Europa, se alastrando pelas colônias, uma epidemia que gerou guetos e cristãos-novos, semente de um movimento sionista que iniciou uma convocação de judeus espalhados pelo mundo a voltar para a terra que Deus lhes destinara – em consignação a Moisés, com recibo passado em duas vias, na Tora e no Velho Testamento. Promessa é dívida, sob o beneplácito da Inglaterra, o Estado de Israel vingou e a Palestina que se dane!
Nessa versão compacta do homo sapiens, faltou encaixar o nascimento, a morte e a ressurreição de Cristo. E o Holocausto.
É de pasmar que o líder de um povo cujo mote é a perseguição, seja capaz de usar com os palestinos o mesmo rolo compressor que humilhou os judeus. É bem verdade que depois dos 50, a memória não é mais a mesma, os neurônios começam a traí-lo, mas não dá para esquecer o número de série gravado em seus braços. Temos inúmeros motivos para sermos bárbaros e matar, e para não sermos mais merecedores de nossa natureza humana. Perde-se a dignidade nos estertores de massacres que desfigurem pátria e religião, abre-se uma ferida difícil de cicatrizar.
Observável nos 11 anos de Maissa, que vive como refugiada na faixa de Gaza com um sorriso no rosto a despeito da miséria. Fecha o tempo se falarem de tropas israelenses e do câmbio a 20 mil dólares pelo sacrifício do homem-bomba. São seus ídolos porque fazem sentir na carne a mesma dor que Sharon provoca quando mata sua gente. Não hesitaria em ser mulher-bomba já que os soldados querem acabar com a sua raça. Filhos, a única arma nas mãos dos palestinos, seu pai se orgulha dela, tem mais 8 na lista. Foi-se o tempo que candidatos a atentados suicidas tinham o perfil de fanáticos religiosos.
Árabes e judeus sempre passaram longe do laboratório de experiências políticas, ao contrário da França, berço de uma cultura emblemática onde precocidade e radicalismo cunharam a Comuna de Paris em 1871, que inspirou Mao Tsé-tung, passando pela Revolução Francesa seguida de um Napoleão. Fez guerra três vezes contra os alemães, obteve a cura da raiva e desestruturou os costumes a que o ser humano está mais habituado, o se vestir. Assistiu a ocupação de Paris pelos nazistas e levantou barricadas em maio de 68 para destripar o capitalismo em favor de Cuba, Vietnã e a China de Mao.
Tenho vergonha de ser francês, choram ao catapultarem Le Pen, temendo necessitar uma terapia de regressão que os porá diante dos espelhos do Palácio de Versailles, com os Luíses rindo a valer às suas costas. Uma nova geração não se sentiu representada pelas forças tradicionais e se desinteressou por política ao se abster, descrente de quem dê jeito em segurança e desemprego. E resultado de eleições é igual a decisão da justiça, cumpra-se e sofra a dor da desmoralização para poder renovar, ou desaparecer.
Para evitar esse mal-estar de franceses, judeus e islâmicos, não há como pular o capítulo dos políticos em campanha eleitoral no Brasil. O ideal é exigir que todo cidadão que ambicione um mandato, autorize quebrar o sigilo bancário, fiscal, telefônico, e-mail, o acesso às contas no exterior e nos paraísos fiscais, faltando escolher até que grau de parentesco a devassa se estenderia, em função da nossa fé pelo nepotismo. Isso no que diz respeito ao candidato à corrupção passiva. Quanto ao corruptor ativo, os que financiam campanhas com o caixa 2, o olho do reality show para flagrar contratos de gaveta como garantia de compromisso.
Sobrariam os ricos apolíticos, onde tudo é relativo até o momento em que seus interesses não estão em jogo. Faz uma coisa, é melhor investigar a todos, não discriminar de onde vem a riqueza, se da sesmaria à capitania todo latifúndio é grilado, se dos juros o banco engorda e arranca-lhe os olhos da cara, para ser livre iniciativa explora-se, o petróleo é nosso e o Bill Gates é um pirata que deu certo.
Pensando bem, não adianta querer ser mais realista que o rei, um traço lusitano na nossa paranóia de controle, ferindo o direito mais comezinho relativo à privacidade. É que nos deixa sobressaltados a dança das cadeiras entre os políticos, segundo as conveniências de procurar espaço para exercer seus direitos de expressar suas idéias. Só pode ser de propósito para confundir o eleitor, se já se foi a vez da mulher que veio do Maranhão para ajeitar os negócios do Brasil, ou se do nada surgiu Collor para extirpar o câncer dos marajás.
Seria o caso de imitar o exemplo do digníssimo deputado baiano Eujácio Simões, que se deleita com sites pornográficos no cybercafé da Câmara, para fugir a debates masturbatórios que em nada acrescentam às voltas que o mundo dá. Por que tanto medo em investigar o que há por trás da maldição da força da gravidade que nos retém aqui? Pois asseste bem a lupa no globo terrestre e verifique se a Terra Prometida continua ainda entre nós.

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Antonio Carlos Gaio
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