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VÍTIMAS DA VIDA MATERIAL

Alcides do Nascimento Lins foi o primeiro filho de uma catadora de lixo a ingressar na Universidade Federal de Pernambuco. Sua mãe não queria que ele tivesse uma vida difícil e sacrificada como a dela: “Alcides vai ser médico!”. O primeiro colocado da rede de escolas públicas no vestibular para Biomedicina em 2007. Um exemplo na comunidade em que morava. Com a remuneração de dois estágios, ajudava a sustentar a família. Bom aluno, estava prestes a ganhar uma bolsa para estudar na Inglaterra. Sempre que conversava com o filho, Dona Maria Luiza Ferreira do Nascimento o imaginava como um homem de futuro que entraria para a História.
Até ser atingido por dois tiros na cabeça, em frente à sua casa, e ter a vida interrompida por dois marginais. O exemplo de superação sempre desperta inveja. Não trilhar o caminho errado, e ainda se sobressair, desmoraliza qualquer covarde, incapaz de tamanha proeza. Somente com o revólver na mão os delinquentes se agigantam e se sentem respeitados, porque conseguem encolher quem, desarmado, pensar em ousar enfrentá-los. Imbuem-se do poder supremo de tirar a vida, mesmo sabendo que um dia chegará sua vez – elas por elas. O que importa é apenas viver o dia de hoje como se o amanhã não existisse e o passado só fosse um estorvo para incomodá-los com vagas memórias que ressaltam sua culpa: ter perdido a chance de construir o seu ser.
Vale a glória de se julgarem Deus, quando decidem o destino de suas vítimas. Até para desafiá-Lo, se desfavorecidos nasceram e injusto é o mundo que lhes foi destinado. De que adianta ser bonzinho nessa vida e cultivar um coração cristão, se as pessoas são más, desprezam de todo modo, não o acolhem e não estão nem aí para a sua pobre existência? Se, até quando você ajuda, sequer se predispõem a reconhecer sua generosidade. Revolta viver num mundo ingrato, onde você dá tudo de si e recebe de volta uma paga que pouco ameniza sua solidão.
O mundo é material para quem corta a trajetória de outrem como se uma motosserra a uma árvore. Ou se explora do que é capaz ou se estuda muito para explorar o conhecimento adquirido. Ambas as hipóteses na estrita dependência do dinheiro. Do odioso vil metal que nos escraviza a obtê-lo com muito esforço. E a induzir ao desvio os ricos em inveja, pois cresceram com horror ao dinheiro curto, preferindo se limitar e explorar a via mais rápida: a de arrancar de quem vive de forma segura, responsável ou empreendedora a sua sobrevivência, o seu sustento, ou até mesmo a elevação do seu padrão de vida.
Essa gente imagina que, se morrerem dormindo ou apagadas pelo trovão de tiros, acordarão no mais belo dos sonhos, livres do inferno da materialidade ou da necessidade de subsistência, onde se farão de vítimas e, para alcançar o Céu, tentarão provar que são o mais inocente dos seres. Não conseguirão escapar de se defrontar um dia com o Dr. Alcides, de jaleco.

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Antonio Carlos Gaio
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