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DEIXA O GRÃO SE MISTURAR

Por que no mundo há tanto preconceito? Não me refiro apenas aos tradicionais: de raça, sexo, idade, posição social ou financeira. Às vezes são diferenças tão sutis. É uma necessidade de se sobressair. Uma teimosia em se afastar ou deixar bem claro que não tem nada com aquele sujeito ali só porque ele representa um mundo que o teimoso não curte. Ou só porque um determinado grupo do qual ele faz parte isola o sujeito da panela. Ele pode até gostar do sujeito, mas já que a panelinha o isola, é melhor fazer o jogo, não é mesmo? E essa coisa de não querer sequer conhecer um fulano porque ele aparenta ser de um mundo com cultura, meio social ou financeiro totalmente diferente do seu? É isso mesmo que importa na vida? Com quem você aprende mais: com quem é igual, ou com quem é diferente de você?
Alguns dizem: quem é eclético e diz que gosta de tudo, na verdade não gosta de nada. Pois eu digo, tenho lá minhas preferências, claro, mas a maior delas é ter ojeriza a tédio, rotina, repetição. Que graça tem sempre só frequentar o grupo do samba, só ser da turma do rock, só viver nos bailinhos de dança de salão, só viver com um livro na mão? Eu, que gosto de tudo isso, tenho dia que tô pro samba, tenho as horas semanais para os meus livros, tenho a noite do zouk, forró e salsa, tenho o dia que é do rock. E não me perturbo em misturar tudo. “Samba-rock não presta, não é puro”, dirão alguns. Eu adoro uma mistureba. Desde que bem-feita, é claro. E isso não exclui ou substitui o valor de um samba de raiz. Pelo contrário. São duas coisas diferentes. Cada uma com suas qualidades. Porque assim como há artistas bons em diversos gêneros, há gente boa e gente ruim em todas essas tribinhos. É por isso que sempre fui uma pescadora. Frequentava várias tribos diferentes e de cada uma delas ia pescando uma pessoa para a minha tribo: a turma dos meus amigos. E o mais engraçado de tudo era que eu sempre misturava aquele povo. Um não tinha nada a ver com o outro, eu também era completamente diferente de todos, e, mesmo assim, tudo sempre acabava em samba, pizza, balada, alegria, carinho, aprendizado.
E eu não sou pior nem melhor do que ninguém por não me definir. Pelo contrário. Eu me defino bem: topo tudo. Topo tudo o que me enriquecer culturalmente, me ensinar moralmente, me confortar emocionalmente. E isso não necessariamente acontece apenas com culturas próximas da minha realidade ou as tidas como elevadas, com as pessoas mais éticas ou com os amigos iguais a mim. Muitas vezes nos enriquecemos muito mais com uma cultura distante, errante ou massificante, aprendemos muito com uma pessoa sem-caráter ou perturbada e nos consolamos com um sujeito que definitivamente não tem nada a ver conosco. Isso faz parte desse mundão gigante, que só tem a acrescentar a esse ínfimo grão de areia que eu sou. E que serei. E até quando não sei! Por isso, continuo sendo feliz assim. Deixa o grãozinho aqui se misturar, deixa o grãozinho experimentar, aprender, acreditar. E se você é um grão de arroz que não quer se misturar, boa pureza pra você. Por isso não se suje perdendo seu tempo a criticar, a reclamar do feijão que você sequer se deu ao trabalho de comer, mastigar e engolir. Pra depois cuspir no prato que você só lambeu com cara de nojo.

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Antonio Carlos Gaio
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