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DOMINADOR OU DOMINADO?

Aproxima-se o dia em que a fé e a razão não mais digladiarão em torno de uma interpretação literal ou antropológica da Bíblia. A procura por um estágio mais avançado ou eficaz processa-se rápida demais, mal conseguimos acompanhar a evolução de um bebê, a maior aquisição de aprendizagem, qualitativa e quantitativa, efetuada ao longo de um ano. Sob um fluxo contínuo de influências que o dominam sem você se aperceber, tentam te pôr em algum lugar, enfileirá-lo, classificá-lo e, se não tomar cuidado, até arquivá-lo.
Se a teoria da evolução de Darwin se baseia em mutações genéticas que favorecem a sobrevivência em determinado ambiente, a chamada seleção natural explica a adaptação do universo político à esfera do dominador e dominado que o ancestral comum impôs a diversas formas de vida com algum grau de parentesco. Inicialmente, estranhavam quem se aproximasse da tribo ou da caverna, assimilar os costumes estrangeiros só em nome da união para matar a fome. Posteriormente, a formação do povo judeu na dissidência do império egípcio. A utopia de Alexandre, o Grande, soçobrou na babilônia do império. Atenas ou Esparta. Romanos ou bárbaros. Cristãos ou muçulmanos. Colonizador ou silvícola. Independência ou morte. Sangue azul ou plebeu. Escravo ou cidadão. Democrata ou comunista. Primeiro Mundo ou Terceiro. Até chegar na globalização, pois o planeta ficou pequeno.
Manda quem pode, obedece quem tem juízo. Para libertar-se da rotina a que estamos sujeitos, você acaba por querer dominar. Mesmo porque, para se livrar de morrer conscientemente tragado pela submissão e covardia, somente iniciando outra jornada que traga no seu bojo o caráter da redenção, escapando à sina do homem cordial.
Você é tentado a trocar de posições, de dominado a dominador. Mas se passar do tom ao reafirmar voz e pensamento, lhe cortam a cabeça. De qual lado você se encontra e se sente confortável? Para o príncipe Charles, do alto de sua realeza, seria o de reencarnar como o absorvente íntimo de seu grande amor. Para jovens e atletas que se anabolizam, é vencer seu complexo de inferioridade diante de mulheres que se agigantam, e predisporem seu corpo a futuros cânceres. Pois o que importa é ser bonita e gostosa, ter um demônio escondido nas entranhas, uma lâmina no brilho dos olhos e torná-lo escravo de seu fogo. Pô-lo em conflito entre ficar louco dentro dela e conhecê-la no dia seguinte quando ela abrir a boca.
Virou cinzas a idéia de exercer domínio férreo sobre sua mulher segundo valores do sagrado matrimônio, o que importa é o ser humano, não o modelo de compromisso afeto a carceragem. Aberta a porteira, aceita-se a predominância, de início aparentemente imperceptível, de uma das partes, já que o equilíbrio configura uma utopia. Vale a personalidade, a clarividência e o carisma. Ele aceitará calado, não resignado; fingindo assimilar, apavorado com a ascensão dela que implica em reconhecimento de seu tamanho e importância; com horror à submissão, ao confundir amor e entrega incondicional.
Na medida para cortar a libido de personagens como dominador e dominado que compõem o universo sadomasoquista que proporciona o campo fértil para a fissura, obsessão e êxtase nas cenas marcantes de sexo que rascunham os sonhos masturbatórios.
Tendemos à linguagem de dominador e dominado e associamos à incompatibilidade de gênios quando essa cadeia é quebrada – uma competição não sanada. Numa versão mais light, os relacionamentos se auto-ajustam a partir do parceiro com maior ascendência, que dá o compasso da música que o casal irá dançar e costura o fio condutor de um final feliz. Embora a alternância de liderança garanta uma orgia maior, o super-homem de Nietzsche paira sobre nossas cabeças, papel agora exercido também pela fêmea. Inaugurando a torre de Babel nas relações.
Somos filhos do mandonismo, porquanto adestrados a respeitar pais e autoridades, nos tornando órfãos se no ser adulto você não se afirmar e não dizer a que veio, reproduzindo o modelo no piloto automático. Por vezes precisando usar de força contra quem ousar meter o bedelho e mandar no seu destino escolhendo suas companhias. Imagine, quando caímos de pára-quedas na paixão, quem irá mandar na sua vontade? Se respira o domínio de uma emoção violenta travestida de saúde e vigor, e se descontrola. Preocupado em provar o amor sincero e regenerador. Restando ao dominado usufruir tamanha adoração e relaxar na passividade que aliena – a que se espreguiça perante o sol e desperta na lua. Em nome do amor, cabe a camisa-de-força que o afasta das pessoas comuns. E ai de quem duvidar. Um martírio para demonstrar um desejo acorrentado pela atração dominadora de seus olhos. Ou que se apoderou de sua alma de vontade até então livre. No que correspondeu com uma força demolidora para conquistar e inseri-la em seus domínios.
Provoca vertigem essa brincadeira de gato e rato. Foi o homem quem começou, ao arrastar a mulher pelos cabelos à procura de uma gruta acolhedora. À mercê da garganta profunda.
– Quem predomina na relação, fazendo prevalecer seu ponto de vista no balanço das horas? A mão que alcança o pote de balas primeiro é a mão que afaga e decide.

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Antonio Carlos Gaio
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